São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Projeto asiático vira marca malufista

JOSIAS DE SOUZA
DA REDAÇÃO

O verdadeiro Projeto Cingapura chama-se HDB (Housing and Development Board) -em português, Conselho de Desenvolvimento Habitacional.
Foi implantado há mais de três décadas em Cingapura, uma cidade-Estado do sudeste asiático com cerca de 3 milhões de habitantes.
A versão malufista não copiou do projeto original o que ele tem de melhor: o modelo de financiamento. Em Cingapura, a construção dos apartamentos é financiada por empregados e empregadores. Em São Paulo, o grosso do dinheiro sai dos cofres municipais.
O Conselho de Desenvolvimento Habitacional de Cingapura gerencia uma espécie de sistema financeiro da habitação. O modelo garantiu a aquisição de casa própria a cerca de 80% da população local.
Cingapura é famosa pela pujança de sua economia. É um tigre asiático, conhecido também pelo rigor de suas leis.
Em 1994, Cingapura virou notícia após impor ao americano Michael Fay, então com 18 anos, a pena de açoite nas nádegas por ter pichado automóveis.
Batismo
A idéia de plantar nas favelas de São Paulo edifícios como os de Cingapura foi levada a Maluf por Romeu Chap Chap, dono da construtora que leva o seu nome.
Há dois anos, convidado para ocupar a Secretaria de Habitação, Chap Chap declinou do convite. Indicou Lair Krahenbuhl, efetivado no posto por Maluf. E entregou-lhe um vídeo com imagens dos prédios asiáticos.
O projeto foi batizado de Cingapura por Duda Mendonça, publicitário que assessora Maluf.
Segundo estimativas da própria Secretaria de Habitação do município, no ritmo atual, seriam necessários cerca de 10 anos para alojar em Cingapuras todos os favelados de São Paulo. Estima-se em 1,9 milhão o número de moradores em favelas.
Até agora, a gestão Maluf ergueu 170 prédios. No total, são 3.500 apartamentos. Gastaram-se R$ 220 milhões.
Outros 8.914 apartamentos encontram-se em fase de construção. No mês passado, a prefeitura obteve empréstimo de R$ 150 milhões do Banco Mundial. A Caixa Econômica havia se comprometido a liberar R$ 70 milhões. Mas só R$ 4 milhões desse total chegou aos cofres da prefeitura.
PAS
Também o PAS (Plano de Atendimento à Saúde), outra vitrine da gestão Maluf, exigirá um reforço de caixa. Os gastos previstos para este ano de 1996 estão estimados em R$ 660 milhões. Para 1997, serão necessários entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.
Na última quinta-feira, Maluf aceitou convite da Folha para visitar o Cingapura da avenida Zachi Narchi. Comprovou pessoalmente que a alta demanda pode estar gerando um mercado paralelo de Cingapuras.
Duas moradoras de uma invasão vizinha, Maria Rodrigues e Maria Mercedes, disseram ao prefeito que Baltazar Gonçalves, presidente de associação de moradores, ofereceu Cingapuras em troca de uma comissão em dinheiro (veja fotos ao lado). A comissão seria de R$ 3.000.

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