São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Prefeito muda imagem e volta a sonhar com Planalto

JOSIAS DE SOUZA
DA REDAÇÃO

Era um início de tarde do mês de abril de 1984. Havia um movimento inusual na cozinha do apartamento do construtor Sebastião Cantídio Drumond, na Praia do Flamengo. Prenúncio de quebra de rotina.
Dono da construtora Cemenge, Drumond receberia para o almoço Tancredo Neves, então governador de Minas, e Delfim Netto, superministro do Planejamento.
"Eu só serei candidato (à Presidência da República) se for contra o doutor Paulo Maluf", disse o governador a um atento Delfim. "Não disputarei com ninguém a não ser com ele. Nós vamos expô-lo à execração pública. É uma pena, mas é o que vai acontecer."
A frase, rememorada na última sexta-feira por Delfim, ganharia ares de profecia. Traído pela cúpula do governo, incluindo o presidente João Baptista Figueiredo, Maluf foi surrado por Tancredo no Colégio Eleitoral.
Marketing
Entre o candidato estigmatizado de 84 e o prefeito popular de 96, há uma meticulosa estratégia de marketing, executada desde 1990.
Importado da Bahia, o publicitário Duda Mendonça foi o principal responsável pela mudança na imagem de Maluf. Auxiliou-o Nelson Biondi, também publicitário.
Cansado de perder eleições, Maluf deixou-se transformar. Comparado ao antigo Maluf, o atual prefeito de São Paulo é uma espécie de político de proveta.
À fama de autoritário, Maluf contrapôs o trevo de quatro corações, símbolo bolado por Duda para "humanizá-lo". Passou a empinar menos o queixo na TV. Trocou os óculos por lentes de contato.
Removeu-se até o braço direito de Maluf, Calim Eid. A pedido dos publicitários, ele foi afastado da coordenação política das campanhas malufistas.
Caixa de Maluf, Calim foi personagem central do caso Paubrasil -o escândalo que revelou, em 1993, o esquema de financiamento das campanhas malufistas.
Paubrasil era o nome da empresa de fachada que, sob a coordenação de Calim, captava contribuições de empresários à margem da legislação eleitoral. Em depoimento à polícia, Calim responsabilizou-se pelo esquema.
Calim conserva a condição de conselheiro de Maluf. Mas trafega apenas nos bastidores. Diz cobras e lagartos de Duda Mendonça.
Produto do regime militar, Maluf beneficiou-se da queda do Muro de Berlim, que fez ruir velhos rótulos ideológicos. De resto, ocupou a mídia com símbolos como o cinto de segurança e o cigarro.
(JS)

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