São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996 |
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Prefeito muda imagem e volta a sonhar com Planalto
JOSIAS DE SOUZA
Dono da construtora Cemenge, Drumond receberia para o almoço Tancredo Neves, então governador de Minas, e Delfim Netto, superministro do Planejamento. "Eu só serei candidato (à Presidência da República) se for contra o doutor Paulo Maluf", disse o governador a um atento Delfim. "Não disputarei com ninguém a não ser com ele. Nós vamos expô-lo à execração pública. É uma pena, mas é o que vai acontecer." A frase, rememorada na última sexta-feira por Delfim, ganharia ares de profecia. Traído pela cúpula do governo, incluindo o presidente João Baptista Figueiredo, Maluf foi surrado por Tancredo no Colégio Eleitoral. Marketing Entre o candidato estigmatizado de 84 e o prefeito popular de 96, há uma meticulosa estratégia de marketing, executada desde 1990. Importado da Bahia, o publicitário Duda Mendonça foi o principal responsável pela mudança na imagem de Maluf. Auxiliou-o Nelson Biondi, também publicitário. Cansado de perder eleições, Maluf deixou-se transformar. Comparado ao antigo Maluf, o atual prefeito de São Paulo é uma espécie de político de proveta. À fama de autoritário, Maluf contrapôs o trevo de quatro corações, símbolo bolado por Duda para "humanizá-lo". Passou a empinar menos o queixo na TV. Trocou os óculos por lentes de contato. Removeu-se até o braço direito de Maluf, Calim Eid. A pedido dos publicitários, ele foi afastado da coordenação política das campanhas malufistas. Caixa de Maluf, Calim foi personagem central do caso Paubrasil -o escândalo que revelou, em 1993, o esquema de financiamento das campanhas malufistas. Paubrasil era o nome da empresa de fachada que, sob a coordenação de Calim, captava contribuições de empresários à margem da legislação eleitoral. Em depoimento à polícia, Calim responsabilizou-se pelo esquema. Calim conserva a condição de conselheiro de Maluf. Mas trafega apenas nos bastidores. Diz cobras e lagartos de Duda Mendonça. Produto do regime militar, Maluf beneficiou-se da queda do Muro de Berlim, que fez ruir velhos rótulos ideológicos. De resto, ocupou a mídia com símbolos como o cinto de segurança e o cigarro. (JS) Texto Anterior: Projeto asiático vira marca malufista Próximo Texto: Sucessor herda dívida de R$ 5 bi Índice |
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