São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Truqueiros dão golpe em apaixonadas

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas estavam muito apaixonadas para enxergar: como Léa, a personagem de Sílvia Pfeifer na novela "O Rei do Gado", essas mulheres fecharam os olhos para o amante interesseiro. Só perceberam a extorsão quando já era tarde.
"Herdei uma grana do meu pai (R$ 75 mil) que foi todinha", conta a pedagoga Dorotéia M., 37, que se apaixonou pelo maŒtre de um restaurante em São Paulo, e deixou a herança "nas mãos dele".
"Ele colocou todo o dinheiro em uma creperie (loja de panquecas), que depois faliu", diz Dorotéia.
Ela afirma que dava o dinheiro para ele porque estava "zonza" com a morte do pai. "Não tive condições de perceber o que estava acontecendo", diz. "No fim, ele sumiu e tive de recomeçar tudo do zero."(leia depoimento ao lado)
Namorado classe-média
O caso da empresária Fernanda C., 32, foi menos dramático -porque ela era mais rica. "Não deu para ficar pobre", diz. "Contratei um advogado a tempo."
Fernanda conheceu o pai de sua filha através de amigos. "Ele era classe média-média, mas um gato e tinha bom trânsito social."
No começo, o rapaz argumentava que não poderia frequentar os mesmos lugares que ela. Quando tinha mais gente na mesa, ele pagava a conta, para não pegar mal, e depois ela reembolsava.
"O reembolso, em dinheiro, era logo depois do jantar", diz Fernanda. "Ele não deixava passar."
Mesmo assim, ela não terminou o relacionamento. "Estava completamente envolvida", diz.
Um mês depois, apaixonada, Fernanda acolheu o rapaz em casa. "No começo ele ainda ajudava nas despesas, mas com o tempo relaxou", lembra.
"Dizia que eu já tinha uma vida estruturada, com apartamento montado, empregada e faxineira, e que não custava lavar umas cuecas e camisas a mais."
Fernanda afirma que ficou grávida "por azar". "Estava usando DIU (anticoncepcional), mas engravidei", lembra. "Ele nunca pagou uma maçã para a menina."
O fim do relacionamento de Fernanda com o marido foi longo. "Ele morou na minha casa dois anos, mas a pendenga judicial se arrastou por mais dois", conta. "Ele pediu até pensão alimentar. O juiz negou."
Jogo duro
O penúltimo namorado da psicóloga carioca Márcia C., 28 -filha do dono de uma rede de drogarias- era segurança da clínica onde ela atendia. Durou dois anos.
"Ele fez jogo duro no início, porque era muito orgulhoso", diz ela."Mas eu o conquistei."
Márcia conta que não se iludia com relação às diferenças financeiras, mas achou que poderia despertar outros interesses. "Tenho amigos inteligentes, cultos, que o receberam muito bem", lembra. "No começo ele ficou encantado."
O segurança deixou o emprego e passou a depender mais ainda de Márcia. "Paguei um supletivo e aulas de musculação para ele."
Depois de frequentar muito a casa de Márcia (que tem muitos quartos, quadra de tênis e uma piscina), ele se sentiu o dono. "Entrava na cozinha para dizer o que queria comer no almoço e passava dias inteiros tomando sol e uísque na piscina", diz Márcia.
Ao mesmo tempo, o encanto foi virando revolta. "Ele achava que eu tinha obrigação de pagar as coisas para ele", diz. "Tinha raiva de mim porque eu era rica."
O caso dos dois terminou quando Márcia pôs um fim na boa vida dele. "Parei de sustentar aquilo tudo e ele, com raiva, me contou que era casado e tinha dois filhos."

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