São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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A chance de "virada" para o governo FHC

ALOYSIO BIONDI

A economia brasileira precisa de um novo "motor de arranque" para sair da recessão -e, principalmente, criar empregos. Para sorte do governo FHC, e do povo brasileiro, não é preciso quebrar a cabeça em busca de soluções mágicas. A alternativa existe. Seu nome: agricultura.
A equação é simples: já há três anos, a agricultura, em todo o mundo, vem sendo vítima de desastres climáticos: secas, inundações, invernos rigorosos. Resultado: as gigantescas perdas nas colheitas, em todo o mundo, forçaram o consumo acelerado dos estoques mundiais de grãos.
Em dois anos, o mundo presenciou uma inversão total de situação: durante décadas, houve sobra de produtos agrícolas, formando-se estoques monstruosos nos países ricos. Em dois anos, centenas de milhões de toneladas desses estoques foram consumidos -e, ainda neste final de semana, o mau tempo continua a provocar quebras de safras nos EUA, com calor exagerado em vastas regiões produtoras de milho e trigo.
Conclusão: os cálculos mostram que, mesmo com grande aumento na produção agrícola mundial, serão necessários de três a cinco anos para que as "sobras" (diferença entre consumo e produção) permitam a formação de estoques "normais", isto é, suficientes para enfrentar períodos de escassez.
Esse quadro criou uma situação imprevista: a agricultura despontou como um setor em que vale a pena investir maciçamente. Surgiu uma alternativa para a criação de emprego e renda em larga escala, com reflexos sobre toda a economia.
Os governos dos países ricos já descobriram o filão agrícola, e desde o ano passado vêm adotando medidas de impacto, de apoio aos produtores. No Brasil, a equipe FHC/BNDES continua a ter olhos somente para o mercado financeiro.
O governo FHC tem a chance de uma virada histórica, criando milhões de empregos e efetivamente redistribuindo a renda no país. Pode perdê-la -a menos que o presidente FHC assuma pessoalmente o comando da questão agrícola e descubra que tem recebido informações falsas, de sua equipe, sobre a política de apoio ao produtor. Essa política não existe.
Descaminhos
No ano passado, o próprio presidente da República anunciou a concessão de empréstimos aos pequenos produtores, com o programa de apoio à agricultura familiar (Pronaf). O presidente anunciou R$ 1 bilhão. A equipe econômica liberou somente R$ 250 milhões, que -pior- deveriam ser emprestados aos produtores pelo Banco do Brasil. O BB liberou somente R$ 30 milhões. Nada. Por quê? Exigências de "garantias" que cinco milhões de famílias não podem oferecer.
Crédito
As lideranças rurais são apresentadas como "monstros lobistas" pelos veículos de informação. Falso. Justiça seja feita: os principais líderes agrícolas do Brasil, nestes últimos dois anos, não têm-se concentrado na defesa dos interesses dos grandes produtores. Insistentemente, eles têm pedido uma política agrícola que apóie realmente os pequenos produtores. Basta o presidente FHC ouvi-los, reler as propostas e agir.
Dinheiro
A equipe FHC vai, obviamente, alegar "falta de recursos". FHC não deve acreditar nessas inverdades. Sua equipe vem até confiscando dinheiro dos agricultores. Neste ano, o governo gastou apenas R$ 80 milhões nos chamados EGFs, empréstimos para permitir ao produtor comercializar suas colheitas com tranquilidade. Em 1995 o valor foi de R$ 1,8 bilhão. Que já representava quase um décimo do dinheiro "dado" aos banqueiros. É hora de uma "virada".

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