São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Empresário prevê fim da Zona Franca de Manaus

Distância dos consumidores é apontada como problema

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Zona Franca de Manaus (ZFM) não passa do ano 2000. Numa economia globalizada não há mais espaço para pólos regionais de desenvolvimento.
A análise é de Waldomiro Motta, vice-presidente da Diamond Eletronic, que monta no Rio de Janeiro televisores e videocassetes da norte-americana Zenith.
A empresa optou por ficar fora de Manaus porque, além de não apostar em áreas incentivadas para produção, considera reduzidas as vantagens fiscais da região de Manaus, especialmente quando se leva em conta a distância dos grandes pólos consumidores.
"É muito caro levar componente do Sul para Manaus, montar o produto lá e trazê-lo de volta para ser comercializado", diz Motta.
A Diamond, que há um mês tem 25% do seu capital nas mãos do BNDESpar, fabrica 30 mil televisores por mês.
A empresa quer dobrar a produção até o final de 1997 por conta do aumento no consumo.
"Imaginávamos crescer 20% neste ano sobre 95, mas vamos expandir 40% nossos negócios." Para atender a demanda, a Diamond vai investir US$ 40 milhões numa nova fábrica também no Rio.
Mesmo fora de Manaus, diz ele, a empresa consegue ser competitiva porque tem incentivo do governo do Rio para pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), além de mão-de-obra treinada e barata.
"Muitas fábricas de componentes fecharam as portas ou saíram do Rio. Por isso, a disponibilidade de mão-de-obra é grande."
Para Motta, a decisão do governo de manter a ZFM é muito mais política do que econômica. Ele conta que empresas coreanas já estão estudando a vinda para o Brasil, pretendendo se instalar na região Sul.
"Fomos considerados malucos quando optamos pelo Rio. Mas parece que outros malucos estão seguindo o nosso caminho."
Solução cômoda
A Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, considera que para o setor a solução mais cômoda é permanecer em Manaus.
A entidade, nasceu em 1994 de um racha na Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) porque um grupo de empresários queria e ainda quer defender mais fortemente a ZFM.
"Estamos preocupados com o futuro da indústria em Manaus", afirma Roberto Macedo, presidente da Eletros. Para ele, seria um desastre tirar as fábricas da região, já que 70% da arrecadação do Amazonas vêm da ZFM.
A Eletros, diz Macedo, quer que o governo discuta a especialização na região e faça dela um pólo exportador. Para ele, há espaço para a ZFM. "Uruguai e Argentina têm áreas de incentivos à produção. Bolívia e Paraguai também estão montando as suas."
A Abinee pensa como a Eletros quanto à especialização na região -no caso eletroeletrônicos e motos. "Achamos que não tem cabimento incentivo à produção de eletrodomésticos porque isso impede investimentos na região Sul", diz Franz Reimer, presidente em exercício da Abinee.
Segundo ele, a Abinee quer discutir com o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, planos para a ZFM.
A Abinee, diz ele, quer que no conselho da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) haja maior participação do governo federal e não regional. "Isso para evitar que as decisões do conselho possam eventualmente ferir o interesse da indústria brasileira."
Reforma tributária
Milton Sztrajtman, vice-presidente da Itautec Philco, diz que o futuro de Manaus fica na dependência da reforma tributária.
"Se não for mexido em nada, lá continuaremos." Segundo ele, o investimento da indústria já está feito em Manaus.

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