São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Emprego cresce, mas a procura é maior

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A economia brasileira -pelo menos em seis grandes capitais- está criando mais empregos nos últimos meses, mas num ritmo inferior ao da procura por trabalho, o que explica o aumento da taxa de desemprego.
No mesmo período, entretanto, a taxa de desemprego aberto nas mesmas regiões saltou de 4,59% para 5,92% porque a chamada PEA (População Economicamente Ativa) cresceu mais, 3,1%, de 16,779 milhões para 17,305 milhões.
Num período mais amplo, agosto/93 a junho/96, a PEA evoluiu 6,96% nas cinco regiões, e o número de ocupados, 6,27%.
Entidades que analisam esses dados, como o Ipea, constatam que o aumento da PEA não está relacionado apenas ao crescimento demográfico de 15 anos atrás, ou seja, com novos brasileiros chegando agora ao mercado de trabalho.
Como a PEA pode crescer
A PEA apresenta uma evolução mais acentuada porque mais pessoas, já adultas e ativas, passaram a procurar emprego.
Expectativas positivas, como as criadas pela inflação mais baixa, tendem a levar mais pessoas à procura de trabalho.
Nos últimos meses, entretanto, o aperto de orçamentos domésticos fez com que mais pessoas saíssem à procura de trabalho, analisam técnicos da Fundação Seade e do Dieese, que também pesquisam emprego e desemprego.
Exemplo de como a PEA pode crescer sem relação com a expansão demográfica anterior é um casal em que somente o marido trabalha. A mulher não integra a PEA porque não é considerada ocupada nem desempregada. Ao ser indagada em eventual pesquisa, responde que não procurou emprego na última semana ou 30 dias.
Num dado momento o marido perde o emprego. Aí, os dois saem à procura de trabalho. O marido já fazia parte da PEA, pois estava empregado. Mas a mulher passa a integrar a PEA porque está procurando emprego -é desempregada-, o que não acontecia antes.
Esse fenômeno pode ocorrer não só em função de demissão do pai, mas de sufoco financeiro numa família. A renda do marido pode estar sendo insuficiente para manter a casa e, por isso, mulher ou filhos estudantes começam a buscar emprego, engrossando a PEA.
Grande São Paulo
O crescimento do número de ocupados e da PEA, desta em maior ritmo, é registrada também pela Pesquisa de Emprego e Desemprego da Seade-Dieese, cuja metodologia trabalha com um conceito mais restrito de pessoa ocupada -e mais amplo de pessoa desempregada (ver outro texto).
Daí a taxa de desemprego ter saltado, no mesmo período, de 15,2% para 16,2%. No primeiro ano do Real, a taxa caiu para a faixa de 13%, mudando de patamar a partir de fevereiro de 96.
Nos últimos 12 meses a ocupação caiu 0,35%, e a PEA subiu 3,22%. Conclusão: a taxa de desemprego saltou de 13,2% para 16,2%.
Qualidade do emprego
Pedro Paulo Martoni Branco, diretor da Fundação Seade, nota, porém, que a qualidade dos novos empregos está piorando.
A onda de desemprego dos últimos meses foi concentrada no setor industrial, onde o nível de ocupação caiu 10,9% de junho de 95 a junho de 96. Houve maior ocupação em outros setores, como comércio e serviços, onde é menor a prática da carteira assinada.
E nos últimos meses, diz Martoni, outros setores não estão compensando tanto quanto antes o fechamento de vagas na indústria.
Números do IBGE para seis regiões metropolitanas do país confirmam: de junho de 95 a junho de 96 o número de trabalhadores com carteira assinada teve redução de 4,1%. Caiu de 7,849 milhões para 7,524 milhões de pessoas.
Ao mesmo tempo, o contingente de ocupados sem carteira assinada cresceu 6,6% (de 3,8 milhões para 4,05 milhões); o dos que trabalham por conta própria 7,8% (3,46 milhões para 3,73 milhões); e o dos empregadores, 8,7% (de 705,9 mil para 767,5 mil).

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