São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caso é polêmico para cientistas

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Negros jogam melhor basquete e brancos são melhores em natação? A melhor resposta, para a ciência, seria um nada definitivo "sim e não". E mesmo essa resposta precisaria de muitos condicionantes.
O motivo é a própria história da ciência, além de serem pequenas as diferenças entre as "raças" que compõem a espécie humana (o termo vai entre aspas, porque não existem definições satisfatórias).
Mesmo hoje ciência é uma atividade dominada por brancos e homens. O percentual de negros e mulheres é ínfimo, muito inferior à sua representação no planeta.
Cientistas do século 19 (e mesmo no 20) achavam normal que homens eram mais inteligentes que mulheres, e que europeus eram mais inteligentes que outros seres humanos de pele mais escura.
Esse passado preconceituoso volta e meia ressurge -como na recente polêmica nos EUA sobre testes de QI que mostrariam que os negros seriam menos inteligentes.
O resultado disso é que os cientistas hoje devotam pouca atenção às diferenças raciais, pois essa área sempre foi associada a racismo.
Mas diferenças raciais existem, e são importantes em certos casos. Há doenças que afetam mais negros, ou mais brancos, devido a diferenças em seu material genético.
Mas é difícil separar o aspecto sociológico do biológico no esporte.
Questões socioeconômicas continuam sendo mais determinantes. Existem menos negros no iatismo pelo mesmo motivo que existem poucos negros cientistas.
Jogar basquete é uma atividade comum de recreação e uma forma de ascensão social entre negros americanos, não importando se eles têm estatura média maior ou não que os brancos.
Diferenças físicas entre "raças", mesmo pequenas, poderiam hipoteticamente ter algum impacto quando os fatores sociais não são determinantes, nos esportes nos quais os recordes passaram a depender de centésimos de segundo.
Ter ossos da perna mais compridos, e músculos mais poderosos, poderia teoricamente auxiliar uma "raça" a ter melhores atletas.
Mas existe um fator final que enterra de vez toda suposição de que existem raças melhores para isso ou aquilo. É a diferença individual dentro da própria "raça".
Nem todos os negros são altos, nem todos os brancos têm grande capacidade toráxica. Não é por ser branco que o ministro Sérgio Motta nadaria tão bem como Gustavo Borges, nem é por ser negro que Milton Nascimento jogaria basquete tão bem como Magic Jordan.

Texto Anterior: Cidade abrigou protestos civis
Próximo Texto: Maratonista corre por 'reputação'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.