São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hebe adotou ex-presidiário

DE BUENOS AIRES

Mãe de dois filhos e uma nora (a quem também chamava de filha) assassinados durante a ditadura militar, Hebe de Bonafini adotou um ex-presidiário há dois anos.
Trata-se de Sérgio Schoklender, que passou 14 de seus 37 anos na cadeia, acusado de ter assassinado os pais. Preso em 1981, Schoklender alegou ter sido torturado para confessar a autoria do crime, supostamente cometido em cumplicidade com o irmão, Pablo.
"Não gosto do termo filho adotivo. Ele é meu filho e ponto", afirma a líder das Mães da Praça de Maio, que conheceu Schoklender ainda na prisão, quando este liderava um movimento em defesa dos direitos dos presidiários.
Na cadeia, Shocklender se formou em direito e psicologia. Estudou ainda sociologia e informática. Em agosto do ano passado, foi autorizado a sair para trabalhar durante o dia. Estimulado por Hebe, que ia buscá-lo todos os dias, ele organizou o arquivo informatizado da associação das "madres".
Mortes
No final de 1995, Schoklender saiu da prisão em liberdade condicional e publicou o livro "Inferno e Ressurreição", em que conta como enfrentou "5.437 noites de enclausuramento, dor e esperança".
O mistério em torno do duplo assassinato nunca foi esclarecido. O pai de Sérgio Schoklender, Maurício, estava envolvido na venda ilegal de armas para a Marinha.
No dia 30 de maio de 1981, seu corpo foi encontrado junto ao da mulher, Maria Cristina Silva, no porta-malas de um carro. Tinham marcas de golpes na cabeça e de estrangulamento.
Denúncia Sérgio e Pablo, então com 23 e 20 anos, foram apontados como os principais suspeitos e fugiram, sendo detidos quatro dias depois.
Sérgio assumiu a culpa pelo crime e disse que o irmão era inocente. Pablo foi libertado em 1985.
Três anos depois, a Corte Suprema também o condenou, mas a sentença não pôde ser cumprida até 1994, quando foi localizado na Bolívia. No livro, Schoklender insinua que o crime foi cometido pelos serviços de inteligência.
Em novembro do ano passado, o advogado de Sérgio, Jorge Goodbar, disse que o assassinato foi ordenado pelo ex-almirante Emílio Massera e "por um ministro do atual governo". O nome do ministro não foi revelado. Massera negou as acusações.

Texto Anterior: Mães da Praça de Maio rejeitam indenização
Próximo Texto: Grupo reúne 2.000 mães
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.