São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Serra e a pedra

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Como no poema de Drummond, no meio do caminho de Serra tem uma pedra. Tem uma pedra no meio do caminho de Serra.
Pedra em campanha política é como gripe em virada de estação. Sempre se está sujeito a cruzar com uma. O segredo está em saber como lidar com ela.
Lula, por exemplo, conheceu a sua pedra, o Real, na última campanha eleitoral. Poderia ter desviado. Mas resolveu investir contra o obstáculo. Fernando Henrique ignorou-o e venceu a parada.
A pedra de Serra chama-se Celso Pitta. Cada vez que Pitta cresce nas pesquisas, o tucano cai. Parte dos votos de Serra parece estar sendo drenada para o colo do pupilo de Maluf.
E o que fizeram os tucanos nos últimos dias? Partiram para o ataque. Desmerecem Pitta, a criatura, chamando-o de "fantoche". E, ao fazê-lo, associam ainda mais sua imagem à de Maluf, o criador.
No fim das contas, terminam jogando água no moinho do adversário. Desconhecido, tudo o que Pitta deseja agora é ver sua figura de jogador da NBA associada à imagem de um Maluf com 52% de popularidade.
O ministro Sérgio Motta, às voltas com suas crises de logorréia, vem exercendo nos últimos dias o papel de principal cabo eleitoral de Pitta. Motta tem caprichado, é preciso que se diga.
Além das críticas a Pitta, o ministro tem desancado o Projeto Cingapura. Tudo leva a crer que, em âmbito municipal, o programa de distribuição de apartamentos a favelados esteja para Maluf e Pitta assim como, em nível federal, o Real estava para Fernando Henrique.
Do ponto de vista estritamente eleitoral, atacar o programa pode conduzir à perda de votos. Ou o PSDB segura os seus radicais, ou seu encontro com a pedra pode ser fatal.

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