São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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O sonho do Magalhães

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Tanto Freud como Allan Kardec deram importância aos sonhos. Dante também: o maior poema da humanidade foi concebido a partir de um sonho. Vendido como escravo por seus irmãos, José adivinhou o sonho do faraó e se tornou primeiro-ministro. Jacó sonhou com a escada cheia de anjos que subiam e desciam. Mas nada mais curioso do que o sonho do Magalhães Jr., que ele me contou numa folga do trabalho.
Sonhou que almoçava em Roma, no Alfredo, quando adentra o restaurante um tipo extravagante, vestido como um centurião romano. Magalhães reconhece nele sir Laurence Olivier, que fazia um filme histórico em Cinecittà. Não havia mesa vaga. Alvoroçado, Magalhães o convida para a sua.
Olivier aceita, pede champanhe, cinco pratos, devora-os de tal forma que Magalhães passa a desconfiar que cometeu um equívoco. Não, não podia ser o sofisticado ator shakespeariano. Pede licença, vai ao telefone no fundo da copa e disca para a Scotland Yard. Pergunta se sabem por anda sir Laurence Olivier. Da Central de Informações pedem meio minuto para dar a resposta. Não foi preciso tanto tempo. Em dez segundos veio a informação: "Sir Laurence Olivier se encontra em Roma, fazendo um filme histórico. No momento, ele almoça no restaurante Alfredo com o teatrólogo brasileiro R. Magalhães Jr."
Mais tranquilo, Magalhães volta à mesa. Sir Laurence Olivier desaparecera, deixando uma conta de 150 mil liras para que o teatrólogo brasileiro a pagasse. Novamente em dúvida, ele volta ao telefone e liga para a Scotland Yard. "Por favor, queria checar uma informação recebida há pouco. Onde está sir Laurence Olivier?"
Desta vez nem foram necessários os dez segundos. A resposta veio na hora: "Sir Laurence Olivier acabou de almoçar no restaurante Alfredo, de Roma, e deixou uma conta de 150 mil liras para um otário pagá-la".

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