São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Assassinos por Natureza' tem versão mais violenta nos EUA

Filme de Oliver Stone é relançado com 150 cenas a mais

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Uma nova versão de "Assassinos por Natureza" ("Natural Born Killers"), o polêmico filme de Oliver Stone acusado de glorificar a violência, acaba de ser lançada em vídeo nos EUA.
São cerca de três minutos a mais, com 150 cenas adicionais, incluindo um estupro, assassinatos e um degolamento -censurados inicialmente pela Motion Pictures Associaton, para evitar que o filme recebesse a classificação NC-17 (apenas para adultos) nos EUA.
A versão, batizada de "director's cut" (edição do diretor), vem acompanhada de uma fita extra com uma hora de cenas eliminadas pelo próprio Oliver Stone, incluindo um final alternativo para a dupla Mickey (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis).
"O que eu gosto na nova versão é que ela permite que o público pense, não monitora ou censura suas opiniões", diz Stone ao apresentar o "director's cut".
A diferença pode ser notada já na primeira sequência, na lanchonete, restaurada para dar "um senso de loucura e surrealismo da violência". Há, por exemplo, uma faca atravessando uma janela fechada e atingindo alguém nas costas.
"A ironia é que, cortando cenas como essa ou como a do tiro que deixa um buraco na mão de Robert Downey Jr, muito do humor negro do filme se perdeu. Essas tomadas deixam o filme mais fácil de assistir, porque é possível perceber seu ridículo", afirma Stone.
Entre as cenas cortadas há Tom Sizemore (o policial) assassinando explicitamente uma prostituta, parte do espancamento de Mickey durante sua prisão na farmácia (inspirada no caso de Rodney King, segundo Stone), o estupro de uma refém da dupla e parte da rebelião na prisão, terminando com o degolamento do personagem de Tommy Lee Jones.
Anjo da guarda
A principal parte do material inédito, no entanto, está na fita extra. A sequência mais forte -parte do roteiro original de Tarantino- ocorre dentro de um tribunal, quando Mickey e Mallory farão uma acareação com uma das testemunhas de seus crimes, interpretada por Ashley Judd.
A sequência termina com o assassinato brutal de Judd, com um lápis como arma.
A outra atração é o final alternativo, com Mickey e Mallory assassinados por um prisioneiro que foge da penitenciária com a dupla -e que, nas palavras de Stone, representa seu anjo da guarda.
Lançado em 1994, "Assassinos Por Natureza" é a história de um casal de assassinos seriais que viram heróis por causa da cobertura da mídia.
A versão de Oliver Stone nunca obteve a aprovação do autor da história, Quentin Tarantino, que se recusou a assistir ao filme.
Stone está sendo processado pelo autor de best-sellers John Grisham ("A Firma", "Dossiê Pelicano"). Ele teve um amigo assassinado por uma dupla que havia assistido a "Assassinos por Natureza" 16 vezes e se dizia inspirada em Mickey e Mallory Knox.

Texto Anterior: Cinema era câmera na mão e a dor na cabeça
Próximo Texto: Marcaccio vê um mundo não tão real
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.