São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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OLIMPO DE HUMANOS

No dia em que o Brasil perdeu no futebol para a Nigéria houve, em Brasília, uma estúpida tentativa de atear fogo à embaixada do país, que afinal sagrou-se campeão olímpico. No último fim-de-semana, quando a Argentina foi derrotada pela mesma Nigéria, um brasileiro acabou assassinado num bar de Buenos Aires. São fatos repugnantes, mas reais.
Mesmo que sejam fatos isolados, não deixam de ser indicativos da enorme distância que os seres humanos ainda precisam percorrer em termos de respeito ao próximo. Especialmente em áreas que infelizmente ainda são delicadas, para dizer o menos, como esporte, religião e etnia.
Entretanto, felizmente as Olimpíadas têm dado oportunidades históricas para a demolição de mitos racistas. Tornou-se clássica a vitória de Jesse Owens em 1936, na Berlim hitlerista onde o ditador de plantão supostamente festejaria a superioridade ariana.
A cerimônia de encerramento da centenária Olimpíada, em Atlanta, no último domingo, também teve o seu momento de alta expressividade política: a subida ao pódio, para receber a medalha de ouro pela vitória na mais tradicional prova olímpica, a maratona, de um atleta negro vindo da África do Sul.
No pólo oposto estão incidentes como o incêndio e o assassinato em Buenos Aires. Dessa perspectiva, merece todo apoio a iniciativa que estaria sendo imaginada pelas chancelarias do Brasil e da Argentina, que gostariam de formar uma seleção de futebol do Mercosul. Afinal, são clássicas as rivalidades futebolísticas entre o Brasil e a Argentina ou ainda com o Uruguai.
A rigor, faltam mesmo ao Mercosul iniciativas não apenas esportivas, mas culturais, no sentido mais amplo, que ao mesmo tempo consolidem e ampliem as novas oportunidades de integração econômica.
O desafio é encontrar meios para criar interesses comuns e viabilizar o compartilhamento de valores sem cair no ufanismo típico de governos populistas ou na "latinidad" caricata que já foi moda.

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