São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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Erundina é Maluf, e vice-versa

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - A eleição para prefeito da capital paulista é de virar a cabeça. Como se sabe, não há época mais propícia à confusão do que a fase de campanha eleitoral. Mas em São Paulo partiu-se para o exagero.
O tumulto materializou-se na propaganda de televisão. Maluf não é mais Maluf. Erundina não é mais Erundina. Maluf agora é Erundina. E Erundina virou Maluf.
Bons tempos aqueles em que tudo o que tínhamos a fazer era optar entre o candidato progressista e o reacionário.
Votar era fácil como dobrar a esquina. Tomava-se a esquerda ou a direita. Simples. Cômodo.
Pois a TV resumiu a eleição em São Paulo a um jogo de falso e verdadeiro. Joga-se o futuro da administração do terceiro orçamento do país na arena da publicidade.
Olhe para mim. Sou a Erundina. Não tenho bandeiras vermelhas à minha volta. Já não defendo a luta armada. Não, não. Mudei, amadureci. Quero ser parceira do empresariado. Eu era vinho. Virei água. Acredite, acredite.
Agora olhe para mim. Sou o Maluf. Já não penso apenas em erigir túneis, em rasgar avenidas. Também mudei. Meu nome agora é social. Ergui trocentos cingapuras. Levei saúde aos pobres. Escolhi um candidato negro. Eu era assim. Fiquei assado. Confie, pode confiar.
A campanha paulista passa por um processo de "coisificação". Ao eleitor não interessa mais saber se fulano é de esquerda ou beltrano de direita. O que se deseja é conhecer as coisas que já realizou ou pode realizar.
O Muro de Berlim foi vendido aos turistas, em pedacinhos, no histórico ano de 89. Mas só agora o conflito Leste-Oeste parece chegar ao fim na Paulicéia. A guerra ideológica, que se imaginava eterna, desaparece como que por encanto. Mais um pouco e não se conseguirá distinguir PPB de PT.

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