São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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Nigéria ensina uma antiga lição do futebol

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, começa hoje o campeonato que deveria despertar o interesse maior do torcedor.
Mas, pelo menos entre os paulistas, o Brasileiro começa com pouca empolgação.
Em primeiro lugar, pela ressaca da campanha medíocre do futebol na Olimpíada.
Depois, porque faltam grandes atrações de bilheteria.
E, depois do depois, embora tenha existido um esboço de pré-temporada, este ano o torcedor já viu os campeonatos regionais, a Copa do Brasil, a Libertadores...
Que inveja da expectativa que está gerando o Campeonato Espanhol, por exemplo.
Não dei a minha palavrinha sobre a sensacional seleção da Nigéria. Aliás, Nigéria que vi e aprendi a admirar em dois jogos no estádio de Foxburo, Boston, contra a Argentina e a Itália, na Copa de 94.
O principal já foi dito. Deixarei apenas uma anotação marginal, mas de interesse inestimável para o futebol.
O continente africano virou um dos competidores internacionais de peso. Será, sem dúvida, uma das forças futebolísticas do próximo século.
No âmbito do fut, esta é a lição número um da última Olimpíada do século 20.
Além disso, a Nigéria -e os africanos, de uma maneira geral- coloca uma novidade para as discussões sobre táticas no fut contemporâneo.
Na verdade, não é propriamente uma novidade. É mais um resquício do passado que, parecendo estar definitivamente sepultado, quando reaparece, toma ares de coisa nova no ambiente futebolístico.
Os jogadores da Nigéria que, na sua maioria, jogam na Europa, perderam um pouco da ingenuidade. Deixaram de ser "naives" na forma tática e no posicionamento em campo.
Mas não perderam totalmente um certo sentido de jogo amadorístico, livre, franco, irresponsável até, que não respeita a quadratura rígida dos esquemas táticos europeus -e até sul-americanos.
Em uma época na qual se afirma que não há mais espaço no futebol, que os jogadores precisam seguir fielmente a arquitetura distributiva em campo, e que não se pode mais contar na peleja com jogadores que não se empenham integralmente na marcação do adversário, o triunfo da Nigéria soa até como uma doce e esperançosa ironia.
Que a Nigéria corre mais riscos do que os outros, não há dúvida. Basta lembrar que os nigerianos ficaram, por duas vezes em cada uma das partidas decisivas, atrás de brasileiros e argentinos.
Mas o efeito Nigéria mostra algo precioso que jamais será revogado do futebol: que a disposição de lutar e a crença quase infantil no poder dos próprios pés podem ser superiores à burocracia tática.
E construir vitórias bem mais vitoriosas.
1) O Brasil não ganhou só cinco medalhas de ouro em cem anos de Olimpíada. Ganhou 12. De qualquer forma, a correção não invalida a comparação feita na minha coluna da terça, pois a Coréia do Sul tem 42 medalhas de ouro.
2) Na coluna de 01.08.96, o título correto é: "Faltaram tática, caráter e futebol".

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