São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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'Gambiarras' continuam em alojamentos

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, dois dias após o incêndio que matou dez pessoas no alojamento da prefeitura na Cohab José Bonifácio, em Itaquera (zona leste de São Paulo), permaneciam as ligações elétricas irregulares nos quatro galpões não atingidos.
Dezenove contêineres, que servirão de novo abrigo para as famílias vítimas do incêndio, haviam sido instalados no alojamento até as 18h, mas ainda não haviam sido ocupados. Os desabrigados aguardavam o cadastramento.
A previsão era de que 34 contêineres fossem deslocados para a área atingida.
Parte dos moradores de abrigos não atingidos, que desde o dia da tragédia haviam deixado seus cômodos e se estabelecido na rua com medo de novo incêndio, retornaram ontem a seus galpões.
Eles dizem que foram ameaçados pela prefeitura.
"O pessoal da prefeitura disse que, se a gente não voltasse para o alojamento, ia perder o registro no Cingapura", afirmou Francisco Chagas Lopes, morador que retornou ao abrigo depois de passar 30 horas com a família na rua.
Ele não soube informar se o "pessoal da prefeitura" era formado por assistentes sociais ou por outros servidores.
"Apesar de terem mandado eu voltar para o alojamento, vou continuar na rua porque não quero correr risco de vida. Estou grávida e tenho cinco filhos", disse Lucimeire dos Santos, ex-moradora do bloco C. A Secretaria da Família e do Bem-Estar Social nega ter feito essa condição.
Atropelamento
Ontem, às 14h50, o menino Alexandre Alcides dos Anjos Silva, 3, foi atropelado quando saía da barraca montada pelos pais no canteiro central da avenida Nagib Farah Maluf, em frente ao alojamento.
O garoto estava habitando uma das 11 barracas que ainda permanecem espalhadas pela a avenida.
O motorista do Monza bege de placa DV-0105, segundo anotação de um dos desabrigados, chegou a parar o veículo depois do acidente, mas arrancou quando cerca de 30 moradores se aproximaram do carro aos gritos.
"O pessoal ia linchar o motorista", afirmaram Clemilson Jesus, 13, Fernando Machado, 15, e José Newton, 19.
O garoto foi socorrido pela Guarda Civil Metropolitana ao hospital Planalto. Segundo o neurologista José Miguel Nicolau Neto, ele sofreu apenas um hematoma na testa e ficará em observação no hospital por pelo menos 24 horas. Depois do acidente, os moradores fecharam a avenida.

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