São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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Novos diretores trazem Brecht para 1996

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois jovens diretores teatrais fazem versões de final de milênio para peças do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Alexandre Stockler, 23, prepara uma montagem incisiva de "Na Selva das Cidades".
Marcelo Marcus Fonseca, 25, reestréia com apenas duas apresentações, hoje, às 20h, e amanhã, às 18h e 21h, na Oficina Oswald de Andrade, sua versão de "Baal - O Mito da Carne".
"Baal" e "Na Selva das Cidades" foram as duas primeiras grandes peças do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956).
"Baal" é um marco. Foi a primeira peça de Brecht, escrita em 1918 e reescrita por ele em 1919, 1926 e 1954. "Ele nunca ficou satisfeito com o texto", diz o diretor.
Já "Na Selva das Cidades" ele escreveu em 1922 e reescreveu em 1926. "A peça traz um microcosmo de uma guerra civil que eu coloco nos dias de hoje", afirma Stockler.
"Na Selva das Cidades" ainda está em fase de ensaio e deve estrear em setembro, no Centro Cultural São Paulo.
Tanto Fonseca quanto Stockler adaptaram os enredos para os nossos dias. A loucura e a violência escapam da época da Alemanha do pós-guerra e caem nos dias de hoje, no nosso presente e no nosso futuro próximo.
"É o mundo urbano que vivemos. É qualquer lugar", diz Alexandre Stockler.
Para ele, o jovem Brecht vivia o pós-guerra e nós vivemos a guerra econômica e civil. "Existem mais de 50 guerras civis declaradas no mundo. Sem contar as não declaradas, como em São Paulo e no Rio", afirma ele.
Comunicação
"Baal - o Mito da Carne" traz a história de dois homens, Baal e Ekart, ávidos pelo prazer e pela comunicação. Baal é provocador de deleites e de destruições. Ele busca a intensidade de cada momento. Ele é divino e humano.
"A história dessa peça tem seu começo com o grande banquete, onde existe um peixe de 1,80 metro com a cabeça de Fernando Henrique Cardoso. O peixe é devorado em cena por Mech, um carniceiro do poder", afirma Fonseca.
"Na Selva das Cidades" também traz dois personagens centrais: Shlink e Garga. "Em ambas as peças é nítida a relação que Brecht faz dos seus personagens com os poetas franceses Rimbaud e Verlaine", diz Stockler.
Garga e Shlink travam uma luta abstrata pela posse e poder. Também é uma luta pela comunicação em um mundo em que o homem sofre da síndrome da coisificação.
Na sua montagem, Garga é o ocidental, busca o fim. Schlink é o oriental, quanto mais golpes toma, mais armas oferece.

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