São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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O último herói de ação

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

No painel das artes plásticas americanas, muitos costumam deixar como marca um descuidado e pouco refinado grafite. Nesse cenário, Jackson Pollock, o pintor do oeste e das cores em ação, legou uma obra.
Amanhã se completam os 40 anos de sua morte. E, no próximo mês, em uma espécie de preparação para a Bienal Internacional de Artes que se aproxima, o leitor brasileiro conhecerá sua história e a de seus companheiros de geração.
A editora Ática prepara o lançamento de "Arte e Cultura", uma coletânea de ensaios do americano Clement Greenberg (1904-1994), o primeiro crítico de seu país a perceber, ainda nos anos 40, que "Pollock é o mais importante pintor a surgir desde o aparecimento de Miró".
Greenberg e Pollock, na paisagem muitas vezes rarefeita da arte moderna da América, estiveram sempre, de alguma maneira, ligados. Greenberg, apesar de ter escrito sobre Monet e Cézanne, ou Bertolt Brecht e Kafka, ainda é lembrado por uma única razão: ter descoberto o talento de Pollock.
"Há uma surpresa na abstração não tão abstrata de Pollock. Há alguma coisa de positiva em suas cores", escreve o crítico em 1943.
Sua idéia central era a de que o "chiaroscuro", luz e sombra, sempre dominou a cultura americana. Dos escritores Herman Melville e Edgar Allan Poe até os pintores e escultores. Pollock chegava para romper esse círculo.
Wyomming
A observação de Greenberg foi motivada pela primeira exposição individual de Jackson Pollock, na galeria Art of this Century. O rapaz nascido no Wyomming estava então com 33 anos. E avançava na tentativa de compor um estilo forte e radicalmente pessoal.
Esse desafio, para ele, significava, basicamente, tentar romper com as influências de Picasso, de Miró e da arte mexicana, tão presente em seus primeiros trabalhos.
Pollock caminhava, já em seu início, para a "pintura de ação", o seu curioso método que o diferenciava de seus companheiros de geração em busca do expressionismo abstrato.
Seu método era o do "dripping": respingar a tinta em uma tela estendida no chão de sua casa e, assim, produzir uma idéia de movimento, da mais completa e pura velocidade das cores no espaço.
Até hoje Pollock é imitado em seu método. Mas, por mais que jovens talentos se deixem levar pela ambição de produzir o mesmo efeito, o fato é que não há sucessores. Apenas imitadores.
Depois de quatro décadas, Pollock é ainda, para todos os que se espantam com seu talento, o último herói de ação.

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