São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O MITO DA GLOBALIZAÇÃO

De tempos em tempos, acham-se fórmulas que pretendem responder em uníssono a todos os problemas do mundo. Durante a Guerra Fria, por exemplo, todas as mazelas planetárias eram explicadas pelo confronto entre os EUA e a então URSS.
Da Baía dos Porcos à ocupação da Namíbia, tudo era atribuído ao conflito entre Ocidente e Oriente. Depois da queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética as coisas mudaram, mas não muito.
O novo "Deus ex machina" internacional é a chamada globalização. Se o desemprego na Espanha chega perto da incrível taxa de 25% ou se a economia mexicana é varrida por uma forte crise, logo todos atribuem esses fenômenos à globalização.
É evidente que a integração dos mercados e a competitividade vêm ganhando terreno. As informações em tempo real e as operações financeiras se aceleraram incrivelmente. E os bancos centrais perderam parte de seu poder de defender moedas contra corridas especulativas.
Nada disso, contudo, elimina as especificidades de cada país. Se a taxa de desemprego em alguns países da Europa é tão elevada, isso resulta de razões tecnológicas, de características do mercado de trabalho e mesmo da opção de conter a inflação em detrimento do crescimento. Não se pode, por exemplo, atribuir a crise bancária venezuelana -fruto de fraudes locais- a uma suposta concorrência com grandes bancos internacionais.
O desemprego crescente no Brasil deve-se, em parte, à abertura comercial, mas o arrocho creditício, a taxa de câmbio e de juros (fenômenos nacionais) têm também grande parcela de responsabilidade.
É preciso, evidentemente, estar atento às grandes transformações que ocorrem no mundo. Mas, como observou Paulo Nogueira Batista Jr. em seu artigo na última quinta-feira, é igualmente importante não mitificar certos modismos para não obnubilar a visão para o que é específico. Não existe uma grande razão que explique tudo. No mais das vezes, pequenos fatos também têm as suas consequências.

Texto Anterior: SOCIAL NA PROPAGANDA
Próximo Texto: Aposta na dúvida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.