São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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A globalização e os economistas

ANTÔNIO CORRÊA DE LACERDA

No dia 13 deste mês comemora-se o Dia do Economista, oportunidade para a discussão da questão da profissão e da economia brasileira em um ambiente de globalização.
O país atravessa um processo de busca da estabilização, em meio a uma profunda mudança estrutural no cenário internacional, o que representa enorme desafio para a sociedade brasileira e que, necessariamente, implica escolhas.
A globalização é um fenômeno que não se restringe aos aspectos econômicos, envolvendo também a questão tecnológica, a cultural e outras não menos importantes.
Mas, se há uma área em que o processo de globalização se mostra mais mensurável, é a economia. O espetacular crescimento dos fluxos financeiros internacionais, aliado à revolução no campo das telecomunicações e da informática, tornou os mercados nacionais cada vez mais vulneráveis aos movimentos especulativos.
Os dados não deixam dúvida. A globalização não é um fenômeno tão recente, mas foi magnificado nos últimos anos com a sofisticação do mercado financeiro, a informatização e a desregulamentação em curso na maior parte dos países.
O fluxo de exportações mundiais deve atingir, neste ano, a astronômica cifra de US$ 6,5 trilhões, e o de investimentos diretos deve chegar perto de US$ 400 bilhões, dos quais cerca de US$ 100 bilhões serão destinados aos países emergentes.
Esse é o movimento mais diretamente associado à produção, mas há cada vez mais recursos representados pelos derivativos e novos produtos financeiros e de capitais.
Para fazer frente às novas exigências do mercado, a formação dos profissionais como um todo -e não apenas dos economistas- precisa ser revista.
O conceito de empregabilidade exige fatores inerentes à formação específica dos profissionais, além de outros de caráter geral, não menos importantes e que são cada vez mais requisitados, como o conhecimento de línguas estrangeiras e de informática, por exemplo.
É uma nova realidade, na qual um diploma de curso superior deixa de ser um diferencial competitivo no mercado de trabalho e passa a ser mais um pré-requisito exigido. Uma condição necessária, mas longe de ser suficiente para o emprego. Especificamente no caso dos economistas, dadas as exigências da sua formação pluralista por natureza, esse desafio é ainda mais significativo.
Agregue-se o fato de que, paradoxalmente, em meio a todas essas transformações, ocorreu -e talvez por decisão dos próprios economistas!- a matematização da economia e o seu deslocamento do foco de ciência humana.
Está cada vez mais claro que a sobrevivência da profissão, em nível internacional, dependerá, em larga escala, da correta dimensão da sua formação.
É preciso manter o caráter generalista do curso, ao mesmo tempo dando condições para o economista especializar-se em um nicho.
O Corecon-SP realizou, recentemente, o "2º Encontro Paulista de Professores de Economia", que procurou sistematizar essa discussão, com a presença representativa da maior parte das 45 faculdades de economia do Estado. O resultado do encontro mostrou que há menos divergências do que num primeiro momento parece haver, pelo menos nas questões-chave.
A formação e o papel do economista em meio às enormes transformações na economia brasileira e mundial devem ser repensados, o que não significa abandonar sua tradição. A democratização do país, por outro lado, mostra claramente que a discussão dos rumos da economia brasileira não pode nem deve ficar restrita aos economistas. É fundamental que todos os segmentos representativos da sociedade se conscientizem e, mais que isso, se posicionem quanto aos rumos da economia brasileira.
Nesse sentido, o papel dos economistas não é o de definir por decisão própria os rumos do país, mas o de planejar, elaborar e executar políticas e ações que viabilizem tecnicamente o caminho escolhido, expresso por meio de suas entidades representativas, do Legislativo, da mídia, enfim, de todos os espaços para discussão.
É nesse sentido que é preciso ficar claro que não há escolha sem custos, mas estes devem ser avaliados em relação aos benefícios.
Todas as decisões de política econômica, mesmo aquelas mais complexas e que parecem distantes do dia-a-dia do cidadão, como as questões do câmbio, das alíquotas de importação e das reservas cambiais, por exemplo, implicam importantes definições dos rumos do país e, portanto, em última instância, da própria população.

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