São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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'Só não me prostitui por não levar jeito'

Depoimento de quem já usou heroína

DA REPORTAGEM LOCAL

Andréa (nome fictício), 24, livre das drogas há dois anos, assistiu "Trainspotting - Sem Limites" a convite da Folha, na última quinta-feira, e viu cenas parecidas com as que viveu.
Ela diz ter sido dependente de cocaína e chegou a usar heroína três vezes. Conta que a sensação provocada pela droga é de inércia, mas que nunca achou que ia entrar na privada, como faz o personagem principal em uma das cenas iniciais.
"Isso não acontece, a não ser que a heroína que eles usam no filme seja muito melhor que a daqui", brinca.
Em "Trainspotting", os personagens roubam e vendem tudo o que têm para obter a droga. É exatamente o que Andréa fazia para conseguir a cocaína.
"Quando minha mãe descuidava, eu levava o videocassete, a TV, até espremedor de laranja eu levei. Só não me prostitui porque não levo jeito."
Para Andréa, as cenas que mostram o processo de desintoxicação do personagem principal não refletem a realidade.
"A tolerância aos calmantes fica alta. Para não fugir da clínica, fiquei sedada. Por isso, acho que o filme mostra bem pouco. Eu alucinava. Um dia entraram no quarto, e eu estava empurrando a cama. Disse que estava tentando fazer o carro pegar." Andréa fazia um tratamento de desintoxicação de cocaína. Um exame de sangue detectou o uso da heroína, e ela foi mandada para uma clínica especializada no tratamento de dependência da droga, onde acompanhou a recuperação de viciados.
"Com eles é muito pior. É terrível ficar sem a droga. Chorei muito, foi a primeira vez que eu me vi em desespero."

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