São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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Alô, alô, marciano

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Os livros de história são como bacia acomodada sob a peneira. Só ganham as suas páginas os fatos que, observados em perspectiva, resistem à filtragem do tempo.
Visto por esse ângulo, o século 20 está sob a ameaça de ser lembrado principalmente como uma quadra de desabamentos espetaculares. Um tempo em que tudo o que parecia eterno ou se esfarelou ou entrou em decomposição.
Ruiu a utopia do comunismo. Ruiu o sonho do amor livre, soterrado pelo medo. Está ruindo a família, em franca desintegração.
Às margens do século 21, encontramo-nos em meio a um torvelinho de interrogações. Quantos ainda morrerão de Aids? De que serve a globalização? Que fantasmas se escondem por trás do fundamentalismo?
Em meio a essa atmosfera malsã, que desafia a criatividade do ser humano e encosta-o contra a parede, surgem indícios positivos: o homem emite sinais de que ainda reúne forças para reagir.
Primeiro, o anúncio sobre o coquetel de remédios capaz de domar o vírus da Aids. Dir-se-á que os cientistas não chegaram à cura. É verdade. Mas a possibilidade de domesticação do HIV é, por si só, digna de nota.
Agora, a descoberta de vida em Marte, anunciada por pesquisadores da Nasa. Não se chegou ao homenzinho verde da ficção científica, mas a uma bactéria supostamente marciana.
Incrustada num pedaço de rocha, ela teria vagado no espaço por 15 milhões de anos antes de vir bater na Terra. Aqui, permaneceu outros 130 séculos sob o gelo da Antártida. Só foi capturada em 84.
Embora cercados de dúvidas, os estudos da Nasa abrem novas perspectivas para o que pode vir a ser o maior feito da ciência: a confirmação das suspeitas de que não estamos sós no universo.
De resto, a rocha misteriosa, batizada de ALH84001, tonifica o sonho do homem de estender até Marte o seu instinto colonizador. Abre-se uma nova fronteira para o próximo milênio.

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