São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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O enigma de 60 burocratas

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O Banco Central não sabe informar o valor atual da dívida externa brasileira.
Saiba o leitor que o BC tem uma seção, inaugurada em 1986, com o nome de Departamento da Dívida Externa, o Dediv.
O chefe do Dediv, José Linaldo Gomes de Aguiar, tem uma explicação pouco convincente para não saber o valor daquilo que administra: "Há muitos sistemas antigos nos nossos computadores. São incompatíveis entre si. Fica difícil fazer um acompanhamento atualizado dos valores".
O Dediv está instalado no quarto andar do edifício-sede do BC em Brasília. Ali trabalham 60 pessoas. Nenhum desses funcionários tem sido capaz de decifrar esses enigmáticos programas de computadores "incompatíveis entre si".
Tudo bem. Linaldo diz estar preocupado com o assunto. E solta uma previsão bem brasileira: "Quero ver se até o final deste ano a gente resolve isso".
Só para registro, o último valor oficial da dívida externa brasileira é de US$ 157,41 bilhões. Esse número é um verdadeiro "frankenstein". Parte dele se refere a junho de 95.
Esse exemplo claro de incompetência administrativa pode até não ser muito grave. Afinal, não consta que a área externa do país esteja com problemas. A dívida está toda renegociada, o país paga em dia e as reservas estão altas.
Mas, ainda assim, é inquietante que um departamento com 60 burocratas não conheça o valor daquilo que deve gerenciar -no caso, a dívida externa do país. Aliás, como a dívida está toda renegociada, não seria o caso de extinguir o Dediv?
A resposta poderia ser dada por Gustavo Franco, diretor de assuntos internacionais do BC e superior de Linaldo na autarquia. Interlocutores de FHC dizem que o presidente se refere a Franco como "um geniozinho".
Seria útil então que Franco utilizasse toda a sua capacidade mental criadora para que os brasileiros pudessem saber quanto o país deve no exterior. Se possível, antes do final do ano.

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