São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 1996
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Ridículo made in Harvard

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O que se espera de qualquer pessoa séria que admita ter "limitada informação" sobre um dado país ou confesse "não ter estudado pormenorizadamente" a economia do mesmo país? Que não dê palpites a respeito daquilo sobre o que tem "limitada informação", certo?
Errado, se o cidadão em referência é um suposto geniozinho de Harvard chamado Robert Barro.
Barro opina sobre o país que não estudou com a facilidade com que muita gente que conheço passa duas horas em escala técnica no aeroporto, digamos, de Moscou e depois escreve um livro do gênero "Todos os segredos da Rússia".
Seria ridículo, não fosse de Harvard, claro.
Se Barro tivesse se limitado às obviedades de praxe sobre os riscos do déficit público, ainda vá lá. Um Zé do Apocalipse a mais ou a menos não faz a menor diferença.
Agora, entronizar no panteão dos heróis da economia latino-americana o mexicano Pedro Aspe e o argentino Domingo Cavallo, aí já é dose para leão. Aspe ajudou a empurrar o México para a mais séria crise de sua história recente. Foi um dos co-autores dessa espécie de bomba de nêutrons econômica, capaz de preservar as estatísticas e destruir as pessoas.
Cavallo é o inventor da camisa-de-força da paridade cambial rígida, sobre a qual tudo já se falou nesta Folha, o que dispensa acréscimos.
Sugerir Cavallo para o lugar de Pedro Malan não passa nem como boutade. Aliás, se sugerisse ao presidente Carlos Menem que mantivesse Cavallo no Ministério da Economia argentino, Barro correria o risco de virar menos do que barro. Viraria pó.
Enfim, nada para se levar muito a sério, até porque Barro confessa, na sua entrevista à Folha, publicada domingo, que não ficará surpreso se suas projeções ficarem "abaixo ou acima do previsto".
É o mesmo que dizer que Atlético-MG x Corinthians poderia terminar com vitória do time local, do time visitante ou com empate. Precisa ser de Harvard para chegar a essa conclusão?

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