São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996 |
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Filmes trazem universo proibido do incesto
MARILENE FELINTO
A coincidência do tema, nos três filmes, indica talvez que a prática do incesto está mais presente nas sociedades desenvolvidas do que se revela. Nenhuma das três histórias trata, aliás, do tipo mais comum de incesto, entre pai e filha. Nos Estados Unidos, estudos demonstram que a grande maioria dos casos de incesto ocorre entre pai e filha. Os relacionamentos incestuosos entre mãe e filho correspondem a 1% dos casos, e os entre irmão e irmã alcançam 18%. Mas alguns pesquisadores acreditam que o incesto entre irmão e irmã é o mais comum e o menos relatado. Entre irmãos É exatamente do incesto entre irmãos que tratam os filmes "Entre Elas" e "Mentiras Inocentes". O primeiro, com direção de Nancy Meckler, é baseado em história verídica ocorrida na França em 1933. Conta a história das irmãs Christine (Joely Richardson) e Lea (Jodhi May), empregadas de uma burguesa e neurótica família composta por mãe e filha intolerantes. Aterrorizadas por traumas de formação -foram abandonadas pela mãe em um convento quando meninas, maltratadas e hostilizadas por freiras superexigentes-, as irmãs criam um mundo próprio para se protegerem. Vestem-se como gêmeas, apesar de não o serem, e vivem uma para a outra, praticando incesto e cultuando uma espécie de sentimento antimãe. Vingança O drama das irmãs segue um crescendo de tensão que culmina com a vingança simbólica contra a mãe -a se realizar tragicamente na pessoa da patroa despótica. O filme é meio teatral, e não poderia deixar de sê-lo, dirigido que é por uma diretora de teatro inglês, Nancy Meckler (de "Ana Karenina"), que escolheu para estrela de seu elenco Joely Richardson, filha da grande Vanessa Redgrave. "Mentiras Inocentes", de Patrick Dewolf, é um thriller de suspense sobre a relação incestuosa entre os irmãos Celia (Gabrielle Anwar) e Jeremy (Stephen Dorff). O filme -com ares de monótono nouvelle vague- mistura incesto com crime e investigação criminal. Disposto a tudo para manter-se sexualmente ligado à irmã, Jeremy sai cometendo crimes, com a cumplicidade dela, eliminando todos os que se metem em seu caminho, até ser descoberto por um detetive. Mãe Suicida Em "A Mão do Desejo", de David Russell, a relação incestuosa acontece entre mãe e filho. Contra a sua vontade, o universitário Ray (Jeremy Davies) é obrigado pelo pai ausente a passar uma temporada cuidando da mãe suicida, que está com uma perna fraturada. Neste que talvez seja o mais leve dos três filmes, o garoto luta com todas as forças para manter intactas suas defesas psicológicas contra o impulso incestuoso. Mas, o que esses três filmes têm em comum não é apenas o tema. Também o tratamento dado ao tema é semelhante. As histórias acontecem sob atmosferas veladas, capazes de manter intacto, também na tela, o universo proibido do incesto, o mais resistente dos tabus da sociedade. Nenhum dos filmes mostra cenas de sexo explícito entre os incestuosos, como se a intenção fosse preservar o espectador do choque. O incesto, essa espécie de ferida aberta bem no seio da família, sangra para dentro no vídeo. Vídeo: A Mão do Desejo Produção: EUA, 1994, 90 min. Direção: David Russell Elenco: Jeremy Davies, Alberta Watson Lançamento: Fast Filmes Vídeo: Mentiras Inocentes Produção: EUA, 1995, 88 min. Direção: Patrick Dewolf Elenco: Adrian Dunbar, Gabrielle Anwar, Stephen Dorff Lançamento: Top Tape Vídeo: Entre Elas Produção: Inglaterra, 1994, 86 min. Direção: Nancy Meckler Elenco: Joely Richardson, Jodhi May Lançamento: Top Tape Texto Anterior: Peça revela tragédia em Nelson Próximo Texto: Condenar a censura não significa defender o Tiririca Índice |
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