São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Por que os grandes bancos quebram

ALOYSIO BIONDI

De tempos em tempos, o Brasil é sacudido por uma "onda" de quebras ou crises que atingem também os bancos de grande porte. Essas falências são quase sempre explicadas, para a opinião pública, como consequência de "calotas" de clientes, ou "desvio" de dinheiro por parte de diretores ou donos dos bancos.
Pura história da Carochinha, como uma Comissão Parlamentar de Inquérito teria condições de comprovar, se investigasse o mercado financeiro e a conivência do Banco Central com as aberrações. "Calotes" não quebram grandes bancos, mesmo porque eles têm o recurso de cobrar os inadimplentes na Justiça.
A verdadeira causa da quebra de grandes bancos são as gigantescas operações que eles realizam, para eles próprios ou -atenção, atenção- para seus grandes clientes, nos diversos mercados especulativos do sistema financeiro.
São operações que proporcionam bilhões de reais de lucros, mas podem também trazer violentos prejuízos. Tratam-se de contratos para a compra ou venda de soja, boi, ouro, dólar e ações com os preços fixados já hoje, para "entrega" em datas futuras (até daqui a meses).
Quase sempre, é tudo apenas papel, contrato: nem o vendedor tem a mercadoria, nem o comprador tem o dinheiro para pagar. Na data prevista para liquidação do contato, pode-se fazer apenas um acerto: suponha-se que um contrato para a venda de 100 mil toneladas de soja fixasse um preço de US$ 150 a tonelada, ou US$ 15 milhões no total. Se, no dia da liquidação, a soja estiver valendo US$ 180 a tonelada, o vendedor paga apenas a diferença ao comprador, de US$ 30 a tonelada, ou US$ 3 milhões no total.
Um mercado onde o vendedor não precisa dispor da mercadoria, e o comprador não precisa de dinheiro (para pagar toda a quantidade negociada) é um paraíso para lucros fáceis. Os negociadores assumem negócios imensos, criando o risco de, em caso de prejuízo, não poderem pagar o devido, provocando então crises e prejuízos aos demais.
Onde os bancos entram nesses negócios? Há dois caminhos. Eles podem ser avalistas, dar "cartas de fiança" a grandes clientes, empresas ou investidores. Quando estes não podem honrar os compromissos, o banco avalista é obrigado a pagá-los -e sofre um rombo. Na outra alternativa, são empresas ligadas aos bancos que podem sofrer prejuízos -e terem que ser socorridos pelos bancos.
Nos outros países, o Banco Central ou as próprias Bolsas impõem limites e exigências, para evitar negócios acima da capacidade de pagamento dos envolvidos. Aqui, no Brasil, é uma "farra".
Pinochios
O Banco Central e líderes do mercado financeiro costumam dizer que os prejuízos sofridos por bancos e investidores "é problema deles", e por isso não cabe estabelecer regras limitativas. Falso. Quando bancos quebram, ou há crises no mercado, os prejuízos acabam sendo pagos por milhares de clientes. E pelo Tesouro.
Explosão
Por falta absoluta de controle do Banco Central, a Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo teve crescimento explosivo nos últimos dois anos. Conseguiu colocar-se logo após as bolsas de Chicago.
Distorção
Empresas que tenham a intenção de exportar podem tomar empréstimos a juros baixíssimos (antecipação de contratos de câmbio). O valor desses empréstimos, hoje, chega a superar o valor previsto para as exportações. Fraudes claras. Depois, quando o cliente não exporta, não pode pagar os empréstimos. Mais rombo. E são bilhões e bilhões de reais.

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