São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996
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Gramado tem dia de feira de livros

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

É como se a 14ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo visitasse o 24º Festival de Gramado por um dia.
Nada menos que dez novos livros sobre cinema e produção audiovisual serão lançados na tarde de hoje, no Centro de Convenções do Hotel Serrano. Os temas variam da história das salas de cinema do Rio ao futuro da TV.
Três dos volumes têm origem gaúcha. O principal deles é "Cadernos de Cinema de P. F. Gastal" (Unidade Editorial/Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre), coletânea de textos do pai da crítica de cinema do RS organizada por Tuio Becker. Também na sessão noturna de hoje, uma homenagem póstuma será dedicada a Gastal e ao pesquisador carioca Cosme Alves Netto.
Simplesmente obrigatório é "b Psit! - O Cinema Popular dos Trapalhões" (Artes e Ofícios), de Fatimarlei Lunardeli.
Seguindo a linha aberta por Alex Viany e Sérgio Augusto, Lunardeli inventaria a história de uma das raras aventuras de cinema industrial bem-sucedidas no Brasil: os filmes do grupo Os Trapalhões, liderado por Renato Aragão e formado ainda por Manfried "Dedé" Santana, Antonio Carlos "Mussum" Bernardes Gomes e Mauro Faccio "Zacarias" Gonçalves.
Desenvolvido como dissertação de mestrado na ECA-USP, o estudo conta em texto forte e elegante a saga de 38 filmes, quase todos sucessos, rodados entre 1965 e 1991, 19 dos quais estão entre as 50 maiores bilheterias do período 1970-1987.
Lunardeli é certeira sobretudo ao revelar a dívida dos Trapalhões para com a chanchada, da fixação por Oscarito de Renato Aragão à contribuição para o desenvolvimento do estilo fílmico do grupo de chanchadeiros como J. B. Tanko e Victor Lima.
Falando em chanchada, Antônio Jesus Pfeil, resgata em um CD e em um livro a história de "Coisas Nossas" (1931), de Wallace Downey, o primeiro filmusical brasileiro. É o filme que formatou o gênero, da Cinédia à Atlântida, a partir das revistas de teatro e dos sucessos de rádio.
Cinema novo
Duas críticas cariocas lançam luz sobre a tragédia de mestres do cinema novo. Ivana Bentes assina a primeira grande introdução a Joaquim Pedro de Andrade em "A Revolução Intimista" (Relume Dumará/Rio Arte).
Dez anos depois da primeira edição, Helena Salem relança em versão atualizada talvez a principal biografia de um cineasta nacional, "Nélson Pereira dos Santos - O Sonho Possível do Cinema Brasileiro".
Têm origem jornalística três outros volumes. A bela entrevista "Gabriel Figueroa - o Mestre do Olhar" (Edições da Mostra), de Leon Cakoff, foi parcialmente publicada em 1995 pela Folha.
"Como Deixar um Relógio Emocionado" (Scritta), do ator José Wilker, reúne crônicas publicadas no "Jornal do Brasil" e resenhas para a "Revista da Net". "Vinte Navios", de Ruy Guerra, traz seus textos semanais para "O Estado de S. Paulo".
"Palácios e Poeiras - 100 Anos de Cinemas no Rio de Janeiro" (Record/Funarte) é mais um volume essencial realizado a partir de documentos do arquivo da Cinédia por Alice Gonzaga.
Por fim, Nelson Hoineff dá seguimento à disputada ciranda de autógrafos de "A Nova Televisão -Desmassificação e o Impasse das Grandes Redes". Na falta de filmes, tem livro para todo mundo.

O crítico Amir Labaki viaja a Gramado a convite da organização do festival.

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