São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 1996 |
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Livro reúne imagens sacras brasileiras
ALVARO MACHADO
Escrito por João Marino -desde 1990 diretor do Museu de Arte Sacra de SP-, o volume é o primeiro estudo abrangente sobre o gênero no país. Além de um breve histórico da arte sacra do período paleocristão até o Concílio de Trento, de uma análise da influência da imaginária portuguesa no Brasil e outros textos de apoio, "Iconografia" traz catalogação, características representacionais e reproduções de 90 imagens brasileiras. Padroeira do Brasil Em meio a imagens raras, figura no livro a estátua de barro cozido de Nossa Senhora Aparecida -pescada em 1717 no rio Paraíba- sem o manto bordado acrescentado quando se tornou "padroeira do Brasil", em 1930. Assim, é possível identificá-la como uma espécie de Senhora da Conceição, ou seja, a Virgem ainda jovem, a mais representada. Sucedem-se as iconografias das principais fases da vida da Virgem: a Expectação, ou Ó (aguardando a vinda do Salvador), a Madona com Menino, e finalmente as Senhoras das Dores (o coração varado de setas) e da Piedade (a Pietá, sustentando o Cristo morto). No interior dessas quatro classificações, o livro apresenta 25 diferentes iconografias de Maria, conforme os atributos que ela ou o menino trazem nas mãos: Candelária, Consolação, dos Prazeres, da Fartura, do Rosário etc. Aleijadinho As páginas reúnem de santeiros atuantes no século 17 -Frei Agostinho da Piedade (c. 1580-1661) e Frei Agostinho de Jesus (c. 1610-1661)- às dezenas de anônimos, além do célebre Aleijadinho. Conforme Marino, "a arte sacra brasileira apresenta menor impressão de movimento, o que torna as figuras arcaicas, próximas da representação medieval, além da mescla de estilos primitivos barrocos". Embora o estofamento e a pintura sejam pouco elaborados e a definição muitas vezes tosca, retrataram-se com clareza traços das raças negras e indígena. "O São João escolhido para o livro lembra um índio velho", exemplifica o autor. Santos europeus "adaptados" a misturas raciais brasileiras também são frequentes. No capítulo "Santos e Santas" o livro traz imagens saborosas, como a representação paulista de São Gonçalo do Amarante empunhando um violão -conta-se que o santo atraía com sua voz prostitutas de rua para o interior da igreja, onde as convertia-, e uma representação catarinense de Antônio de Pádua, o "santo protetor dos pobres" que, introduzido pelos portugueses, logo se tornou o milagreiro preferido dos santeiros brasileiros. Com programação visual de Manoel Araújo, o livro tem edição de 3 mil exemplares e será vendido no Museu de Arte Sacra de SP, com renda revertida para a instituição. A exposição, com 29 estátuas, fica em cartaz até 27 de setembro, diariamente das 10h às 18h. Texto Anterior: Filme de Diegues tem estréia simples e encontros notáveis Próximo Texto: Gênero fascina estilistas Índice |
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