São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996
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Vida longa e dinheiro curto

JOSÉ KNOPLICH

A associação inversa entre o nível socioeconômico da população e o risco de doença e morte é axiomática em qualquer tratado de saúde pública.
Os relatórios divulgados pelos PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) analisaram, por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a qualidade de vida dos povos baseados na renda, na escolaridade e na expectativa de sobrevivência da população.
O IDH do Canadá, o primeiro colocado, foi 0,95. O Brasil ficou em 63º lugar, com 0,084, atrás de muitos países da América do Sul.
O IDH está sendo questionado na literatura médica como índice válido ("British Medical Journal" 20/4/96 -Internet http://www.bmj.com/bmg archive). G. Kaplam faz pela primeira vez nos Estados Unidos a comparação dos 50 Estados entre si, usando dados socioeconômicos de 1980, comparando-os com 1990.
Quando se usaram dados macro, tais como renda per capita e PIB, não houve correlação entre a longevidade da população e os índices de mortalidade por doenças ou infantil.
A equipe precisou usar um outro critério: a renda familiar de 50%, da camada mais pobre. Aí sim houve uma associação entre a desigualdade de distribuição de renda e índices de sobrevivência.
No período de 1980 a 1990, houve nos Estados Unidos uma concentração de renda fantástica: 66% de todos os ganhos foram para 1% da população, e, para a grande maioria da população, houve uma perda de 3%.
Essa desigualdade faz com que os pobres tivessem os piores índices de crianças com baixo peso, homicídios, desemprego, número de fumantes, presos, menos escolaridade e pior alimentação.
O índice de pobreza para uma família de quatro membros em 1990, nos Estados Unidos, era de US$ 13.359/ano.
Acontece que, de 1980 a 1990, todos os índices de saúde nos Estados Unidos melhoraram, inclusive os de longevidade, com a exceção do grupo até 30 anos, das camadas mais pobres, devido a causas violentas, homicídios e acidentes em geral.
No Brasil, em 1960, 50% da população mais pobre detinha 18% da renda total, mas passou a 12% em 1991, portanto com uma perda de 6%.
Qualquer que seja a metodologia usada, pessimistas ou não em relação à distribuição da renda no país, mesmo com esse total de recursos, pode-se, por enquanto, continuar a melhorar os índices de saúde dos brasileiros. Isso não é simplesmente otimismo.

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