São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996
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Especialista aponta 'síndrome do medo'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo especialistas em violência, os casos ocorridos nos últimos dias demonstram que, movidas pelo medo e pela sensação de insegurança, as pessoas estão se armando e colocando em risco a vida dos outros e as suas próprias.
"A população está entrando na síndrome do medo. Gente comum e sem antecedentes está andando armada e se tornando eventuais assassinos", afirma o delegado Antero Leonardo Bianchi, 54, titular do 100º Distrito Policial, no extremo sul da cidade.
A área engloba o Jardim Ângela, bairro campeão de mortes na cidade: são registrados 111 homicídios por ano por 100 mil habitantes.
No outro extremo dos índices da violência, a síndrome do medo é a mesma. Em Perdizes (zona oeste de São Paulo), com três homicídios por 100 mil habitantes, a polícia afirma recolher pelo menos dez armas ilegais por mês.
"Uma fechada no trânsito, uma discussão no bar, e o cidadão vai querer sacar a arma", diz Mauro Kurban, delegado do 23º DP.
Segundo os delegados, com as pessoas armadas, os crimes só não ocorrem nos locais onde há policiamento. "E nenhuma polícia do mundo pode estar em todos os lugares", diz o coronel Elio Proni, comandante do policiamento metropolitano de São Paulo.
O coronel tem 22 mil homens sob seu comando. Gostaria de ter o dobro. "Ainda assim, a sociedade precisa se desarmar. Do contrário, os marginais vão continuar tomando seus revólveres e se armando ainda mais."
No mercado negro, um revólver pode ser comprado por R$ 200,00. "No Jardim Ângela, qualquer pessoa anda armado. Basta uma discussão e cada um puxa o seu. Quem sacar primeiro, vence", afirma o delegado Bianchi.
Para Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, a sociedade está vivendo uma "síndrome equivocada".
"Não é verdade que está havendo uma caça aos estudantes brancos. A classe média está se contaminando pelo clima artificial e amplificado numa conjuntura político eleitoral."
Pinheiro diz que a cidade precisa de um movimento Reage São Paulo, mas em outro lugar. "As mortes estão aumentando entre os jovens da periferia pobre. É lá que se deve protestar, não apenas na avenida Paulista."
O Reage São Paulo, iniciativa de parentes e amigos das vítimas do último sábado, pretende mobilizar a cidade para conter a violência.

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