São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996
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Crianças vão aos restaurantes de NY

NINA HORTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chego a Nova York no dia da Independência, com uma neta de 8 anos. O neto de 5 nos espera, com a mãe. No primeiro dia já descumprimos a decisão de jamais entrar em restaurante muito alto, ou giratório. Mas queríamos ver os fogos e telefonamos para o Rainbow Room para saber se aceitavam crianças. Aceitavam, mas pediram que o menino, único representante masculino, fosse de terno. Serve blazer? "Serve, mas com gravatinha." Sentiram o drama?
O bar fica no 37º andar e não roda, aliás, parece que não se mexe há 50 anos, pelo menos. Música "latina" para dançar, coquetéis coloridos, mulheres de salto alto dourado, vestidos de lantejoulas, homens de smoking vermelho, anéis nos dedos à Liberace. Nunca pensei que essa tribo dos 50 ainda existisse, mas está lá no Promenade e no Rainbow Room, na Rockefeller Plaza.
A cara dos maŒtres e dos garçons era um estudo de: quem-são-estes-aliens-chamados-crianças? Confesso que a neta tinha na cabeça uma pontuda coroa verde de isopor comprada por um dólar na Circle Line, onde se lia "Independence Day", o que não refrescava nada a nossa condição de intrusos.
Toda a formalidade e jequeira do lugar foi perdoada quando a paisagem vista lá de cima se definiu em dourados de cair da tarde, e o Empire State Building iluminou-se em degradés das cores da bandeira.
Fomos aprendendo que quanto mais fino o restaurante, menor a restrição a crianças. É claro que nenhum grande chef quer transformar seu lugar em uma cantina barulhenta com meninos correndo e chupando pirulito. Mas entendem as exceções -o privilégio que uma criança tem de ir comer bem em uma ocasião especialíssima. Que venham os futuros clientes! Que aprendam a comer!
No Union Square Cafe, traumatizada, espreitei pela porta, tentando descobrir uma cabeça de infante entre as mesas. Mal nos viram e já estavam com as crianças encarapitadas no bar e com a piada pronta. "Só não aceitamos crianças brasileiras que tomem caipirinha demais!" Comida e hospitalidade maravilhosas, normal, de quem cozinha bem, tem uma casa para ganhar dinheiro, e bem-vindos sejam os filhos dos outros.
A mesma coisa no Nobu, o novo japonês. Lá, comeram uma sobremesa incrível, um soufflezinho de chocolate amargo e um sorvete de chá. E repetiram. É engraçado falar em sobremesa de restaurante japonês, mas é uma das melhores coisas do restaurante -desculpem-me os adoradores do Nobu.
Monsieur Daniel Boulud foi a glória, mas a história fica para ou tra vez, que o espaço é pequeno para conversas de avó.
Agora, para que todo mundo se sinta bem, é levar os miúdos às cantinas italianas, aos restaurantes tailandeses, chineses, com aquela adorável bagunça e comida boa. O resto pode ser muito bom para eles, mas um poço de ansiedade para os acompanhantes... Ufa!

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