São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Empregadas fazem "suflê político"

DA REPORTAGEM LOCAL

Na hora de "defender" seus patrões, as empregadas domésticas dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo ignoram a política. Os elogios, muitas vezes rasgados, são pessoais, morais ou até estéticos.
O "dr. Pitta" é gentil, o "dr. Rossi" é lindo e a "dona Erundina" é bacana.
Na hora de explicar suas convicções, elas fazem um verdadeiro "suflê político".
Luzia França dos Santos -que limpa uma vez por semana o apartamento da candidata do PT, Luiza Erundina- não gosta do Partido dos Trabalhadores, é fã de Orestes Quércia e votou em Fernando Henrique para presidente.
Maria Helena Pereira Barbosa, cozinheira na casa de Celso Pitta (PPB), também ajudou a eleger FHC e justifica sua opção pelo patrão, alegando que ele "pensa na sociedade e nos parentes".
Ednalva Paiva, a cozinheira de Francisco Rossi (PDT), votou em Quércia para presidente e diz que, na hora de distinguir um político honesto de um corrupto, "entrega tudo nas mãos de Deus".
As cinco empregadas são imigrantes e têm filhos. Algumas acreditam que, se o patrão for eleito, suas vidas vão melhorar. "Depois que ela ganhar a eleição, quem sabe eu não peço um aumento?", diz Luzia.
"Minha vida vai melhorar muito se ele ganhar", deixa escapar Maria Helena, empregada de Pitta, em um dos poucos momentos em que conseguiu "se soltar" durante a entrevista à Folha.
Todos os candidatos colocaram entraves à reportagem. As entrevistas nos apartamentos de Rossi e Pitta foram acompanhadas pelas mulheres dos candidatos.
No caso de Pitta, além de Nicéa, a entrevista foi assistida por um assessor de imprensa, que gravou toda a conversa.
O assessor José Fernando Lefcadito justificou a atitude dizendo que o material poderia "servir na campanha" depois que o jornal publicasse seu conteúdo.
Para encontrar a empregada de Luiza Erundina, a reportagem da Folha teve que esperá-la na rua porque os assessores do PT tentaram impedir a conversa.
Eles instruíram os porteiros a dizer que Luzia não estava no apartamento de Erundina. Durante a conversa, o síndico do prédio passou e advertiu: "Não era para você falar".
A assessoria do candidato do PSDB, José Serra, informou que "seria impossível" entrevistar as duas empregadas do candidato.
Procuradas na casa de Serra, não foi permitido que as empregadas falassem ao telefone.
Uma voz feminina, que atendeu o telefone, disse que não chamaria nenhuma delas. Quando foi pedido para que se identificasse, desligou.

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