São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Também nos EUA, 'grande não quebra'

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Três questões são hoje centrais para o futuro dos bancos nos EUA: fusões (nem sempre pacíficas), tecnologia (dinheiro virtual e comércio eletrônico) e expansão de outras instituições (fundos de pensão, seguradoras, corretoras, bancos de investimento, etc.). Mas há também, como no Brasil, polêmica em torno de questões como tarifas bancárias. Grupos de defesa dos consumidores lutam contra o que julgam ser cobrança abusiva de tarifas bancárias.
Outro problema que parece típico de país em desenvolvimento, mas que hoje desafia autoridades, investidores e clientes, é a avaliação de riscos no sistema bancário. Em 1992, por exemplo, mudanças de regulamentação forçaram os bancos norte-americanos a adotar padrões baseados em risco de crédito ("risk-based capital standards", ou RBC) no provisionamento de reservas. Ou seja, para diferentes tipos de ativos (hipotecas, crédito ao consumidor, para empresas, etc.) deveriam ser mantidas reservas de capital ponderadas pelo risco correspondente.
Entretanto, estudos recentes de especialistas de Stanford e Harvard mostram que o modelo falha completamente na avaliação até mesmo dos riscos de crédito. Isso significa que o sistema bancário norte-americano está seguindo regras que diminuem a eficiência do crédito da economia e avaliam incorretamente o retorno potencial de cada operação. Em outras palavras, tentando reduzir o risco dos bancos, a regulamentação pode estar reduzindo a eficiência do sistema e, portanto, aumentando o próprio risco dos bancos.
O sistema bancário norte-americano é também terreno fértil para ilusões que em geral se supõe típicas de um poupador brasileiro. Os bancos, ameaçados pela concorrência, têm corrido para entrar no mercado de fundos mútuos. E os grandes bancos acabam tendo vantagem porque os poupadores acham que implicitamente seus depósitos estão protegidos pelo governo federal. O que é pura ilusão, não fosse pela conhecida máxima, que não está em lei alguma, mas funciona na prática e diz que "banco grande não quebra". Lá, como cá.

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