São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Desconfiança é maior entre quem já teve dinheiro retido

Atrizes da TV Globo tinham conta em agência do ex-Econômico

JACQUELINE LATTARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A atriz Suzana Vieira não é exatamente uma fã de bancos, mas tem conta em três. "Hoje os bancos em geral tratam a gente muito mal. Eles ficam com o nosso dinheiro e fazem isso parecer um favor", afirma.
Suzana, que viveu a experiência de ter o dinheiro de sua conta preso no banco Econômico, no ano passado, diz estar sempre esperando uma "bomba". "Depois que o Collor confiscou nosso dinheiro, tudo é possível", diz.
Quando o Banco Central interveio no Econômico, em agosto de 95, os funcionários da Rede Globo ficaram com o dinheiro retido na agência do Jardim Botânico (zona sul do Rio), onde recebiam seus salários. Muitos recorreram à Justiça.
Suzana diz que, apesar da experiência ruim, gosta de manter uma conta no Excel -banco que comprou o Econômico-, porque os antigos gerentes foram mantidos.
"É onde eu recebo o melhor tratamento. Existem milhões de agências, que te tratam muito mal. As filas são enormes, ninguém sabe dar informações e as taxas são altíssimas."
A atriz diz manter investimentos em cada um dos três bancos onde mantém conta. "Tenho de deixar um dinheirinho em cada um deles para receber um tratamento melhor", disse.
Suzana acredita que a melhor aplicação financeira é o dólar. "Não me interessa se está abaixo ou acima do real, dólar não dá mofo e pode ser guardado no cofre do banco", afirma.
Os bancos onde Suzana mantém conta são Boston, Excel e Real, mas ela diz que, à exceção do Boston, não se sente segura em nenhum banco. "Só esses economistas brasileiros para arrebentar um banco estrangeiro no país", brinca.
Companheira de Suzana, a também atriz Eva Wilma viveu a mesma situação no Econômico. "Naquela ocasião, chegou um momento em que alguém tinha de tomar uma atitude. Além da ação na Justiça, fizemos uma carta de protesto, que foi lida pelo Jô Soares, em seu programa, e publicada em alguns jornais."
Desconfiança
O roteirista Geraldo Carneiro diz que não confia mais em bancos. Além do Econômico, Geraldo teve dinheiro preso no antigo Comind. Na época, só recuperou 50% do que tinha.
"Desta vez, no Econômico, como correntista fiquei feliz em reaver meu dinheiro. Como cidadão fiquei furioso e indignado pelo governo ter usado o dinheiro do contribuinte para cobrir esse rombo", disse.
Para se proteger da "quebradeira", Carneiro mantém contas em quatro bancos. "Neste mundo de estelionatários, não confio em ninguém", diz.
"Por mais que o presidente da República tente providenciar medidas esfarrapadas, não há como tapar o sol do estelionato com a peneira da retórica neoliberal."
(JL)

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