São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Automação bancária avança, mas também traz reclamações

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O sistema de automação nos bancos brasileiros é considerado como mais avançado do que o dos EUA, mas, paradoxalmente, é uma das principais fontes das reclamação de clientes junto ao Procon de São Paulo.
Um dos problemas mais comuns, relata Dinah Barreto, supervisora de assuntos financeiros do órgão, é o "golpe" da troca de cartões magnéticos quando alguém pede ajuda para operar os caixas automáticos.
Não se trata de defeito do equipamento, mas, segundo a supervisora, muitas pessoas que procuram o Procon garantem que estavam de posse do cartão e mesmo assim houve saque automático da conta bancária.
A solução desses casos é difícil porque não há como provar. O Procon os encaminha para o Decon, a delegacia do consumidor.
Altos executivos de bancos chegam a confessar que enfrentam casos isolados de apropriação indébita praticada por funcionários.
Vigiar extratos
O Procon aconselha a observação atenta e sistemática dos extratos bancários.
A "zeragem" de contas de poupança também motiva reclamações no Procon. Dinah explica que uma norma do Banco Central permite débito quando o saldo é muito baixo, em contas praticamente inativas. Mas os bancos devem avisar antes o cliente, diz ela, o que não estaria ocorrendo.
Outras queixas de usuários do sistema bancário referem-se a extravio ou roubo de cheques entregues via correio; adulteração de cheque; e a cobrança de tarifas por serviços não autorizados.
Dentro da área financeira, o que liderou as consultas no ano passado foi consórcio (6.502 casos), seguido por empresas de cobrança (3.308), financeiras (3.236), bancos (2.624), cartão de crédito (1.983), contratos do tipo compra programada (1.674), seguradoras (1.533) e previdência privada (121).
Com seguros, queixa bem comum é contra a não-cobertura de seguro de vida (a seguradora alega, por exemplo, que a pessoa já tinha determinada doença quando assinou o contrato).
Outra é quando a indenização de um carro baseia-se no valor de mercado na época do sinistro e fica abaixo da importância segurada.
Para Dinah, essa cláusula é abusiva porque não é uma via de duas mãos. Se o valor de mercado for maior do que a importância segurada, vale esta. O Procon-SP tem conseguido acordos sobre isso.
Tarifas
A grande polêmica entre o sistema bancário e órgãos de defesa do consumidor atualmente é a questão das tarifas, o que os bancos cobram na prestação de serviços.
A maioria das tarifas está com preços liberados há muito tempo, mas, no mês passado, o Banco Central ampliou a liberação. Os bancos, por exemplo, podem agora cobrar o fornecimento de até um talão de cheque por mês (que era isento), caso o cliente opte por cartão magnético.
Procons de todo o país, o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), sindicatos de bancários e parlamentares se movimentam no sentido de barrar a decisão do BC.
Em outros países, é comum a cobrança de tarifas por praticamente todos os serviços. Uma das poucas exceções é o fornecimento gratuito de talão de cheques para a conta-salário, relata Emilio Volz, executivo brasileiro que trabalha num banco internacional nos EUA.
Um talonário com 25 folhas custa em média de US$ 4,00 a US$ 5,00 nos EUA, diz ele.
Alguns bancos brasileiros cobram por saques em caixas automáticos, mas nos EUA isso é usual, diz Volz. Em média, cobram-se US$ 3,00 pelo fornecimento do cartão e US$ 1,00 por saque.
Mesmo clientes com bom saldo médio chegam a pagar US$ 0,50 por saque numa ATM.
(GJC)

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