São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Uso de recursos públicos vem desde a década de 70

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A história das crises bancárias no país mostra que as soluções sempre tiveram alguma forma de participação de recursos públicos, via Banco Central.
Em novembro de 1985, quando o BC decretou as liquidações dos bancos Comind, Auxiliar e Maisonnave, os três tinham um passivo a descoberto de aproximadamente US$ 780 milhões.
Eles já haviam recebido, ao longo de três anos, o equivalente a US$ 390 milhões do BC para tentar contornar seus problemas.
Na liquidação, só para pagar correntistas dos bancos, o BC desembolsou cerca de US$ 111 milhões.
Em 1985, o governo calculava que nas duas primeiras décadas do sistema bancário montado em 1964 haviam sido gastos cerca de Cr$ 30 trilhões (US$ 3,35 bilhões) em operações para salvar bancos.
Marcou época, em 1974, o caso do Banco Halles, parte de um dos conglomerados estimulados a crescer no governo Médici (69/73).
O Halles não resistiu ao aperto monetário decretado pelo ministro Mário Henrique Simonsen (governo Geisel), sucessor de Delfim Netto, para conter os riscos de inflação gerados pelo choque do petróleo de 1973.
O governo interveio em abril de 74, disposto a não fazer concessões. Mas, no final de maio, acabou patrocinando a encampação do Halles pelo estatal Banco do Estado da Guanabara, hoje Banerj.
Segundo o jornalista José Carlos de Assis, no livro "A Chave do Tesouro", em junho o BC já havia gasto Cr$ 8 bilhões (cerca de US$ 1,2 bilhão pelo câmbio de 6/6/74) com a crise do Halles.
O episódio do BUC (Banco União Comercial), logo após a quebra do Halles, é um caso bem sucedido de patrocínio pelo governo da incorporação de um banco doente por outro sadio.
Segundo o livro "A Chave do Tesouro", o BUC, do grupo Soares Sampaio (hoje Unipar), com 230 agências, entrou em crise junto com seus maiores clientes, como o grupo Lume, e estava com um passivo de curto prazo de Cr$ 1,8 bilhão (dinheiro da época), quando foi montada sua compra pelo Banco Itaú, em agosto de 74.
Delfin e Coroa
Para o ex-diretor do Banco Central Roberto Castelo Branco (governo Sarney), os casos dos grupos Delfin e Coroa-Brastel, embora rumorosos, não devem ser confundidos com crise bancária.
Os dois, liquidados no início da década de 80, seriam mais episódios de irregularidades ou fraudes.
O caso Delfin começou com a publicação pela Folha de reportagem que revelava com detalhes um empréstimo de Cr$ 60 bilhões (moeda da época) feito pelo extinto BNH ao grupo. Os bens dados em garantia estavam subavaliados. Foi o estopim de um escândalo que terminou com a liquidação.
No Coroa-Brastel, foi descoberta, em 1983, a emissão de letras de câmbio frias (US$ 520 milhões).
Banco alagoano
O caso Produban, banco estadual alagoano, iniciado em novembro de 1988, foi a mais rumorosa tentativa recente de liquidação de um banco estadual no Brasil. Fracassada, como outras.
A decisão, tomada em 16 de novembro, só resistiu até 6 de janeiro de 89, embora o banco tenha ficado fechado até 6 de setembro do mesmo ano, quando o Banco Central liberou aproximadamente US$ 40 milhões para ele voltar a funcionar. O banco carregava uma pesada dívida de US$ 215 milhões dos usineiros locais quando o BC decidiu liquidá-lo.

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