São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Aumenta frustração com asiáticos

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O que há alguns meses era uma tendência incipiente começa a ganhar corpo. O núcleo mais dinâmico da economia mundial, o pólo asiático, perde força em termos de desempenho, aumentam os problemas políticos internos e a insegurança regional.
Na semana passada vários incidentes colocaram esses problemas em evidência. Na quarta-feira a CNN entrou na onda, com reportagem que mostra a perda de confiança dos investidores internacionais. Surpresa? Mais surpreendente é a sequência da reportagem, afirmando que o novo objeto de desejo dos fundos são os mercados latino-americanos.
Entre dezembro de 90 e junho de 96, os fundos mútuos concentrados em ativos do Pacífico asiático foram de US$ 300 milhões para US$ 9,9 bilhões. Mas a retirada de dinheiro já começou. Ainda segundo a CNN, incertezas políticas estão levando os investidores a fugir de paraísos recentes como Tailândia e Indonésia.
As projeções de crescimento econômico na região, assim como a performance exportadora, também estão em baixa.
O economista Paul Krugman, do MIT, já vinha desafiando os especialistas que apostavam num "modelo asiático". Para ele, houve uma fase de acumulação importante, mas a região não teria como escapar a alguns determinismos econômicos bastante simples.
Na edição de dezembro de 1994 da revista "Foreign Affairs", Krugman denunciava o "mito do milagre asiático" (virou o capítulo 11 do livro "Pop Internationalism"), comparando a paranóia ocidental com relação à Ásia com os medos análogos, diante das economias socialistas que davam saltos de crescimento nos anos 50.
O tempo passou e o sistema econômico da União Soviética acabou "travando", com terríveis problemas de eficiência. O resto é história. A advertência de Krugman é que poderia ocorrer a mesma coisa com os dínamos asiáticos.
Mitos
Transpiração, mais que inspiração. Este o segredo do milagre asiático segundo Krugman. Cingapura cresceu mobilizando recursos de uma forma que "deixaria Stalin orgulhoso". O investimento como proporção do produto foi de 11% para 40%. A tese do economista americano é simples: não há como sustentar o processo no longo prazo. O que se considera milagre nada mais é que um evento singular, possível quando a economia é muito pobre, mas que não se repete. A população empregada dobrou durante o salto desenvolvimentista. Passada essa fase, ela não dobrará de novo.
Passada a fase do "salto", ganhos de eficiência, produtividade e tecnologia passam a ser cada vez mais importantes. Mas são muito mais difíceis de alcançar e manter.
Se essa aplicação da lei dos rendimentos decrescentes ao desenvolvimento econômico tem algum sentido, os mercados estão certos ao iniciarem um movimento de retirada. E oportunidades em outras áreas, como a América Latina, que mal saiu de uma década perdida, podem voltar a atrair o interesse. No México, por exemplo, parece que o pior já passou e a economia poderá voltar a crescer.
A economia coreana está engasgada. A Bolsa está deprimida há dois meses e os resultados das empresas no primeiro semestre foram mais uma ducha de água fria.
Também na semana passada o presidente de Taiwan, Lee Teng-hui, fez advertências sobre os riscos do investimento na China. Mais de 30 mil empresas de Taiwan investiram na China. O presidente Lee alertou para os riscos de esse deslocamento afetar a competitividade de Taiwan. No mesmo dia os investidores saíram correndo da Bolsa de Taiwan. Para completar, ele disse que já estava na hora de liberalizar menos e proteger mais a economia taiwanesa.
A situação asiática, entretanto, parece por enquanto mais complicada principalmente por motivos políticos e de segurança regional.
Outro mito é o de que uma matriz confuciana, nas sociedades da região, criaria uma estabilidade política inexistente no Ocidente.
O confucionismo é de fato importante em vários países, mas o quadro político não é um mar de rosas. A repressão ao movimento pela democratização na Indonésia mostra que não é tão pacífico o consenso "tipicamente" asiático.
Mas a grande incógnita política da região ainda é a China. A economia continua crescendo, mas já há quem tenha a pulga atrás da orelha quando pensa no futuro das relações entre a potência chinesa e as pretensões do Japão.

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