São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Enterrar crianças comove coveiro

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 250 corpos são enterrados por dia nos 36 cemitérios de São Paulo. Apesar disso, a profissão de coveiro é a terceira mais rejeitada pelos paulistanos.
O coveiro Luiz Claudio Rodrigues, 39, trabalha há dois anos no cemitério da Consolação (SP). Antes, trabalhava em empreiteira, mas mudou de ramo em busca de registro em carteira de trabalho.
Duas coisas que odeia na profissão: enterrar crianças e exumar (tirar da sepultura) cadáveres.
"Os enterros de crianças são os que mais comovem. Outro dia foi enterrada uma que tinha sete anos. A mãe colocou uma lanterninha no caixão porque a criança tinha medo de escuro", conta.
Quando tem de fazer uma exumação, Rodrigues também sofre. "O cheiro é insuportável de cadáveres. Os pedaços de carne decompostos são ainda piores."
Rodrigues sepulta em média quatro pessoas por dia. Ganha R$ 204 mensais. "É pouco perto do que a gente passa."
Em enterros de famosos, alguns coveiros também têm seus minutos de fama. É o caso de Edvaldo José de Souza, 33, que trabalha no cemitério Primavera, em Guarulhos (Grande São Paulo).
Ele sepultou os cinco integrantes da banda Mamonas Assassinas, mortos em março passado num acidente aéreo.
"Cheguei até a dar entrevista para a TV. Mas, para mim, foi como enterrar qualquer outra pessoa", diz Souza, que está nessa profissão há sete anos.
(LPz)

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