São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996 |
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A perspectiva que vingou
EDUARDO SIMANTOB
Na verdade, esta é a segunda Editora Pespectiva de J. Guinsburg. A anterior teve vida efêmera, no início dos anos 50, e produziu um só livro: a primeira tradução para o português de "O Díbuk" (alma errante), de Sch. An-Ski (1863-1920), clássico da dramaturgia iídiche contemporânea. E também não foi o início de sua experiência editorial: logo após a Segunda Guerra, sob o impacto do Holocausto e motivado por um certo ideário de esquerda (apartidário), Guinsburg fundou em São Paulo a editora Rampa em sociedade com Edgar e Carlos Ortiz. Conseguiram lançar quatro livros que formavam uma minicoleção de cultura judaica e iídiche. Talvez por serem pérolas de uma língua exterminada, chamaram a atenção de intelectuais como Otto Maria Carpeaux, Carlos Drummond de Andrade e Antonio Candido. Este último chegou a prefaciar o primeiro livro de Guinsburg, "As Portas de Sion", uma compilação de textos escritos para o jornal "O Estado de S. Paulo" sobre literatura judaica e iídiche. Guinsburg, admirador já então confesso da obra de Candido, é convidado para editar a "Antologia de Literatura Brasileira" na editora Difusão Européia de Livros. Segundo Guinsburg, o mercado editorial no início dos anos 50 era um tabuleiro com poucos jogadores: tirando a Companhia Editora Nacional, que atendia quase na totalidade o mercado de livros didáticos, havia a Zahar, a Civilização Brasileira e a Difusão suprindo uma demanda crescente por títulos tanto do meio acadêmico quanto da cena literária em plena efervescência. Na Difusão, Guinsburg conheceu "muita gente ilustre; até presidente da República", no caso o atual, Fernando Henrique Cardoso, que dirigia a convite dele a coleção "Corpo e Alma do Brasil". Com o fim da Difusão, ressuscita a Perspectiva, inaugurando a já célebre coleção Debates com "Personagens de Ficção", livro de ensaios assinados por Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado, Paulo Emilio Salles Gomes e Antonio Candido. Para quem acha que os quase 650 títulos que editou pecam pelo intelectualismo exagerado, Guinsburg dá de ombros: "Não tolero preconceito antiacadêmico. As obras valem pelas idéias que expõem. Se são mais difíceis, não é só porque o autor quis falar difícil, mas porque o assunto exige uma linguagem mais articulada". "Afinal", conclui, "não se prova a teoria da relatividade em linguagem de cantador de viola". (EdS) Texto Anterior: A epopéia de uma língua Próximo Texto: Memórias de uma língua destruída Índice |
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