São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Ursa 'implantada' constrange grupo ambientalista francês

The Independent
de Londres

MARY DEJEVSKY
EM PARIS

Infelizmente, a ursa em questão não era uma qualquer. Era a pequena Mellba, uma das duas ursas marrons recentemente introduzidas na região na esperança de salvar a espécie ameaçada de extinção. A matança dos carneiros ameaça reacender um debate.
Em 1991, quatro distritos da região dos Pirineus decidiram promover o desenvolvimento econômico local por meio do turismo.
A idéia de incentivar a vinda das ursas surgiu em parte devido à preocupação com a possibilidade de um túnel entre França e Espanha, cuja construção era discutida, eliminar os últimos remanescentes dos ursos dos Pirineus.
Acreditava-se que só restassem oito, e que eles vivessem exatamente onde seria construído o túnel. Na parte central dos Pirineus os ursos já estavam extintos.
Em 1993, o Ministério do Meio Ambiente da França concordou em dar apoio a um projeto de reintrodução de ursos marrons nos Pirineus centrais, e Bruxelas concordou em financiá-lo em 75%.
A tarefa foi confiada à organização Artus, que escolheu ursos eslovenos por serem geneticamente os mais próximos aos que viviam nos Pirineus.
Após ser adiado por um ano, o projeto finalmente se concretizou este ano. A chegada de Ziva, com seis anos, e sua soltura nos Pirineus foi acompanhada avidamente pelos telespectadores. Três semanas depois, uma segunda ursa, Mellba, foi solta.
Tanto Mellba quanto Ziva foram equipadas com sensores eletrônicos para que cada um de seus movimentos pudesse ser acompanhado. Um terceiro urso, o primeiro macho, deverá juntar-se a elas nas próximas semanas.
Mas o que se constatou até agora não é muito satisfatório. Ziva, por exemplo, imediatamente demonstrou não ter muita lealdade a sua pátria por adoção, tendo partido para a Espanha, onde passa boa parte de seu tempo.
Mellba, embora prefira as montanhas mais baixas e tenha permanecido na França a maior parte do tempo, tem se mostrado avessa à companhia humana (o que pode dificultar a esperada atração de turistas apreciadores da fauna) e, lamentavelmente, muito afeita à carne de carneirinhos pequenos. Matou seu primeiro há duas semanas. Desta vez, foram seis em uma única noite.
Algumas precauções foram tomadas para acalmar os temores suscitados pelo projeto. A mais importante é um generoso esquema de compensação paga aos donos dos rebanho. Eles devem receber cerca de US$ 250 por carneiro perdido -mais do que o dobro do preço de mercado.
Mas a perda de tantos carneiros já no início do projeto é motivo de muito constrangimento para os ecologistas. Um membro do grupo Artus, Patrick Beauchet, disse que "não é para dramatizar a situação". Mas admitiu que, se o problema voltar, talvez seja preciso tomar "medidas dissuasivas". "Na pior das hipóteses, Mellba pode ser retirada da região."
Consta que os habitantes da região estão enfrentando as estripulias de Mellba com coragem, esperando que com o tempo os ursos acabem atraindo turistas -e a receita decorrente deles. Também sentem saudades dos ursos que perderam nos anos 80. Um habitante da região comparou a possibilidade de se avistar ursos nos Pirineus à de se avistar a Virgem Maria no santuário de Lurdes.

Tradução de Clara Allain

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