São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Cápsula de gás apontou origem de meteoritos

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 3 de outubro de 1815, às 8h, os moradores da aldeia de Chassigny, próxima à cidade de Dijon (França), foram surpreendidos por uma detonação; mais tarde, encontraram 4 kg de rochas.
Cinquenta anos depois, o mesmo fenômeno ocorreu em Shergotty, uma pequena região próxima à cidade de Calcutá, Índia. Finalmente, em 28 de junho de 1911, 40 pedras caíram em Nakhla, 150 km ao norte do monte Sinai, no Egito. Uma delas matou um cachorro. As pedras recolhidas constituíram os meteoritos de Shergotty, Nakhla e Chassigny.
Nada havia que permitisse atribuir-lhes uma origem comum até que, em 1979, cientistas dos EUA apontaram sua provável proveniência marciana. Hoje, conhecemos três nakhlitos, seis shergottitos e um único chassignito.
Entre os meteoritos de origem marciana, um deles foi encontrado em Governador Valadares (MG). Sua analogia com o Nakhla, encontrado no Egito, em 1911, fez supor que se trata de um fragmento do meteorito egípcio.
Numa inspeção sumária, essas rochas basálticas parecem análogas às lavas terrestres. Seu aspecto exterior pouco as distingue dos outros meteoritos. No entanto foi graças às análises físico-químicas dos cientistas americanos que se revelou que os meteoritos marcianos, denominado de SNC (abreviação shergottitos, nakhlitos e chassignitos), possuíam uma história complexa e atípica.
Eles se diferenciam ainda por sua idade aparentemente muito jovem -aproximadamente 1,3 milhão de anos- e sua assinatura isotópica em oxigênio, que os distinguem de todas as rochas lunares, terrestres ou meteoríticas tradicionais. Para alguns astrônomos, elas devem ter se formado com o derramamento vulcânico recente sobre um astro das dimensões dos planetas do sistema solar, sendo Marte o melhor candidato dentre eles.
Acredita-se que Chassigny, Nakhla e Shergotty teriam atingido a Terra depois de um forte impacto meteórico que os teria projetado no espaço. O argumento mais forte a favor da tese marciana vem, sem dúvida, de uma falha na estrutura de um shergottito da Antártida.
Trata-se do meteorito denominado "Carcaça de Elefante", em alusão à região glaciária em que teria sido recolhido. Essa amostra apresenta pequenas bolsas de vidro escuro que conservam no seu interior o gás atmosférico do corpo de onde provêm. Esse gás é uma marca registrada do planeta de origem. Constatou-se que a composição desse gás em elementos inertes, assim como a sua assinatura isotópica, são exatamente idênticas às registradas pelas sondas Viking na atmosfera marciana.
Tal conclusão não é aceita pacificamente por todos os astrônomos. Alguns mineralogistas argumentam que, como a Lua se acha mais próxima da Terra do que Marte, o fluxo de meteoritos provenientes do nosso satélite deveria ser muito superior. Daí concluírem que a origem lunar seria muito mais provável que a marciana.

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