São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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A "onda" de violência em São Paulo

JOSÉ AFONSO DA SILVA

Todos estamos chocados com os crimes violentos ocorridos nos últimos dias. Foram crimes bárbaros, cometidos por psicopatas. Contudo, infelizmente, corpos de inocentes estão sendo utilizados por políticos e a mídia sensacionalista para criticar o programa de segurança do governador Mário Covas.
Não é verdade que está havendo um aumento de crimes violentos na capital. Pelo contrário. Do segundo para o primeiro trimestre deste ano, caiu 17% o número de homicídios em São Paulo e 15% o número de latrocínios (roubo seguido de morte). Esses podem ser considerados os indicadores mais graves de violência e mostram que a criminalidade está sob controle. Isso não está ocorrendo por graça divina, mas sim pela ação planejada do Estado.
Desde que estatísticas sobre criminalidade começaram a ser feitas, no governo Montoro, os resultados são praticamente os mesmos: alto número de crimes contra o patrimônio nas regiões nobres da cidade contra alto número de crimes contra a vida na periferia.
Por isso, pela primeira vez aumentou-se significativamente o número de policiais e viaturas nas zonas sul e leste, regiões carentes da capital. O governo decidiu, baseado em dados estatísticos, combater prioritariamente crimes violentos que, por sua natureza, ocorrem com mais frequência na periferia e tornavam o Capão Redondo o bairro campeão no número de homicídios.
Só em janeiro, esse bairro chegou a registrar 24 homicídios. Em junho, três meses após a implantação do programa na região, ocorreram 14 casos. Uma significativa redução. Nesse mesmo mês, ocorreram dois homicídios no Campo Belo, distrito onde se encontra o bar Bodega. Mas, como o bar se encontra numa região nobre, as duas lamentáveis mortes lá ocorridas, na semana passada, redundaram numa enorme "onda de violência".
Este é um ano eleitoral e, portanto, o discurso político possui um grande caráter eleitoreiro. É com essa intenção que está sendo utilizada a "onda de violência". Como a polícia pode prever crimes ocorridos dentro de um bar? Nem a polícia norte-americana, considerada modelo por tantos, conseguiu evitar um atentado na Olimpíada.
O que a polícia pode fazer e está fazendo é prender esses criminosos, dentro das limitações que este governo herdou. Por motivos eleitorais, por exemplo, o ex-governador Fleury deslocou em agosto de 1994 3.000 policiais da capital para o interior. Esses policiais estão fazendo falta.
Mesmo com essas deficiências, durante este governo a polícia já prendeu mais de 8.000 ladrões, incluindo 300 de banco no primeiro semestre deste ano. Também já foram presos os ladrões que colocaram fogo no casal que mora no Jardim Paulistano e o rapaz que matou outro jovem num bar de Jundiaí.
Contudo somente a ação policial não é suficiente para o combate à criminalidade. É urgente a criminalização do porte de armas. Afinal 85% dos homicídios ocorrem com armas de fogo, e a polícia não pode prender quando encontra qualquer pessoa portando uma arma ilegal. Depende dos congressistas a aprovação dessa modificação.
Segundo a Constituição, a "segurança é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos". Por isso é ótimo que surjam campanhas contra a violência. Mas é fundamental que essas campanhas abarquem não só as regiões nobres, mas também a periferia.
A polícia tem realizado partos, atendido pessoas com mal súbito, levado doentes para hospitais. Isso é função da prefeitura. Se o prefeito cuidasse dos problemas sociais de São Paulo, a polícia poderia ter mais tempo para combater a criminalidade.
O Estado está fazendo sua parte. A violência é um problema crônico das grandes cidades, e São Paulo apresenta índices muito melhores que grandes cidades dos Estados Unidos e Europa. Contudo sempre haverá um caso grave que poderá nos chocar. A violência é sintoma de muitos problemas, não só o social, como sempre se afirmou, mas também o moral. Enquanto houver políticos usando inocentes para se eleger, a ação deles não buscará o fim da criminalidade, mas sim sua manutenção.
Que os eleitores fiquem de olhos abertos para ver a quem interessa a "onda" de violência.

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