São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GNT mostra últimos dias de Vargas

FERNANDA GODOY
COORDENADORA DE REPORTAGEM DA SUCURSAL DO RIO

Parece novela, mas é documentário. E bem que poderia ser thriller político. Foram cinco dias de conspiração, de tensão, de angústia, até que o presidente Getúlio Vargas disparasse um tiro contra o próprio peito, na manhã de 24 de agosto de 1954.
O momento mais dramático da vida política brasileira foi recriado por Fernando Morais, 50, autor de "Chatô - O Rei do Brasil", no documentário "Os Cinco Dias que Abalaram o Brasil", que o canal de TV paga GNT exibe essa semana, de segunda a sexta, às 22h, e no sábado, às 21h30.
O formato escolhido mistura elementos tradicionais dos documentários -fotos de época, depoimentos de sobreviventes- com recursos da dramaturgia.
"Acho que o resultado é um thriller. Um garoto que goste de filmes de ação pode gostar do documentário", diz o diretor Mauro Lima, 29.
Que ninguém espere atores encarnando Getúlio ou o ministro Tancredo Neves. A saída foi mais engenhosa, meio ficção, meio jornalismo.
Em busca do "furo" e da compreensão do momento histórico, o repórter de rádio Edmar Fonseca (Otávio Muller), conta ao espectador como foram os últimos dias de Getúlio.
Ditando, por telefone, relatos de reuniões ministeriais no Palácio do Catete (antiga sede do governo federal) ou recebendo ligações de fontes militares no botequim, é ele o narrador.
O recurso do relato jornalístico é usado com inteligência também no aproveitamento dos dois "âncoras" do programa de rádio: Dayse (Beth Gofman) e Fidélis (interpretado com insuspeitado talento cômico pelo apresentador de TV Augusto Xavier). "Ficou um pouco surrealista, porque é uma estação de rádio que você pode ver", comenta Morais.
Rodado em película para cinema -e não em vídeo, como a maioria das produções para a TV- "Os Cinco Dias..." é 100% preto-e-branco.
Cada capítulo do documentário retrata um dia na vida daquele conturbado período e será exibido exatamente na mesma data, 42 anos depois.
É uma espécie de "diário da morte", segundo Morais. Apenas no primeiro capítulo são feitas concessões à necessidade de fornecer maior dose de informação histórica.
Presidente do Brasil em dois períodos (1930-45 e 51-54), ditador, deposto pelos militares, reeleito por voto direto, estadista, Getúlio é um personagem cujo fascínio Morais quer transmitir a quem assistir ao documentário.
Outro ponto que diferencia "Os Cinco Dias..." dos documentários convencionais é que nele os inevitáveis depoimentos não são preferencialmente de autoridades. Nele, falam as secretárias, os ajudantes-de-ordens, os seguranças que viram de perto os últimos dias de Getúlio.

Texto Anterior: 'Emissora apanha como adolescente'
Próximo Texto: Canal aposta nos 'brasileiros'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.