São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Testa-de-ferro de PC retorna ao Brasil

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ARCOS (MG)

A Justiça e a Polícia Federal reabriram as buscas ao dinheiro que o empresário alagoano Paulo César Farias enviou ao exterior de modo supostamente ilegal.
O motivo da operação é a volta ao Brasil de um obscuro personagem do suposto esquema financeiro montado por PC Farias. Depois de passar 12 anos fora do país, Ironildes Teixeira, 40, voltou ao Brasil em dezembro do ano passado.
Ironildes é apontado pelo Ministério Público como ex-testa-de-ferro de Paulo César Farias nos Estados Unidos.
Após seis meses de apuração, a Folha localizou a residência brasileira de Teixeira. Ele trocou Miami, na Flórida (EUA), pelo município mineiro onde foi criado: Arcos, localizado a 220 km de Belo Horizonte. A Justiça e a Polícia Federal tomaram conhecimento da volta de Teixeira ao país em julho.
Investimentos
Levantamento feito pela Folha em Arcos revela que Ironildes Teixeira já investiu pelo menos R$ 500 mil em negócios na cidade.
Em apenas quatro meses (de setembro a dezembro do ano passado), ele comprou um posto de combustíveis e seis terrenos.
O ex-testa-de-ferro de PC pagou pelo menos R$ 300 mil na compra do Posto Teixeirinha, às margens da BR-354, e mais R$ 200 mil na aquisição dos seis terrenos localizados em áreas nobres da cidade de Arcos, que somam juntos 4.042 metros quadrados.
"Não tenho terreno nenhum. Não tenho nada a mais no Brasil além do posto", contestou Teixeira. Mas os terrenos -sendo que em um deles existe um imóvel de cinco cômodos- estão registrados no cartório de Arcos em nome de Teixeira.
O posto -que também tem como atividade "transporte de cargas em geral"- está registrado na Junta Comercial do Estado em seu nome (98%) e no de sua mulher, Ana Morais Teixeira (2%).
Mineradora
O ex-representante de Paulo César Farias tem demonstrado interesse em entrar em um negócio de maior porte: uma mineradora de calcário e brita, que está à venda por R$ 8 milhões.
"Ele não me procurou diretamente, mas ouvi dizer que ele estava interessado na compra da empresa", disse Cleuser Teixeira, dono da mineradora Agrimig.
Teixeira, porém, nega que tenha qualquer interesse na compra da mineradora. "Tudo mentira. Soltaram um boato de que eu ia comprar a companhia", afirma.
Com capacidade de produção anual de 800 mil toneladas de pó de calcário e brita, a mineradora possui jazida própria, um terminal de trem com 1,3 km de trilhos, seis moinhos e 25 hectares de área.
Depoimento
Teixeira será chamado pela Justiça, em breve, para depor em um processo no qual é acusado de ter participado do esquema PC.
Teixeira era presidente da Miami Leasing e sócio do piloto Jorge Bandeira de Mello na Part Express, nos EUA. Bandeira, por sua vez, era sócio de Paulo César Farias na Brasil Jet, no Brasil.
Por meio de operações entre a Miami Leasing e a Brasil Jet, foi enviado US$ 1,4 milhão para fora do país entre 1991 e 1992.
Para a Justiça, Teixeira representa duas esperanças: desvendar onde estão os US$ 400 milhões que PC Farias tirou do país e descobrir quem é o atual gerente desses recursos. A Polícia Federal já está fazendo investigações preliminares sobre a vida do ex-testa-de-ferro de PC Farias no Brasil.

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