São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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BC dá prejuízo e complica alongamento ; Balança ; Volatilidade

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

BC dá prejuízo e complica alongamento
O BC (Banco Central) colocou um obstáculo ao processo de alongamento dos prazos. Ele atende pelo nome de prejuízo.
Contrariando as expectativas, o BC manteve a TBC (Taxa do Banco Central) em 1,9% este mês. Na prática, o juro, que ia cair, subiu.
Quem adquiriu títulos públicos de longo prazo, apostando na queda das taxas, amargou perdas.
Os cálculos sobre o tamanho do "rombo" são díspares -de R$ 500 mil a R$ 40 milhões por mês. Mas é consenso que a maior perda foi mesmo de credibilidade.
"Vai ficar difícil vender títulos do longo prazo", diz Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa-Nosso Banco.
Para ele, a maior vítima desse processo foi o Tesouro, "que vendia os títulos mais longos".
Balança
Indagado sobre a alta, o diretor do BC Gustavo Franco deu sua resposta: "O BC não dá entrevista sobre suas ações. Fala ao mercado por intermédio de sua atuação".
Mas já que o BC "fala" por suas atuações, o mercado diz que entendeu o recado.
"Nas últimas semanas, o cenário mudou", diz César Sizenando, vice-presidente do Unibanco.
Para ele, e esta opinião é majoritária entre os analistas ouvidos pela Folha, o BC aumentou o "prêmio" pago sobre o câmbio para enfrentar o déficit comercial.
Na prática, o exportador não ganha mais na taxa de câmbio, mas vai colocar mais dinheiro no bolso ao trocar seus dólares por reais e aplicá-los no mercado financeiro.
Para Sizenando, a alteração na política de juros é circunstancial. Assim, lembra ele, a tendência de longo prazo continua sendo de queda, embora, ao que tudo indica, em um ritmo ainda mais lento.
Volatilidade
Para os bancos, essa gangorra não é necessariamente o final dos tempos. Ao contrário, a mudança interrompeu temporariamente a necessidade de buscar novas alternativas de negócios.
Os bancos voltaram a faturar com a diferença de juros e comemoraram a volta da volatilidade.
É que os bancos ganham dinheiro com as oscilações de preços e com o "spread" (diferença entre os juros cobrados e pagos).
Antes, eles estavam apostando suas fichas no alongamento. O motor do processo foi o crédito ao consumidor, que começou com o prazo de seis meses e já atingiu 36 meses. A idéia é esticar o prazo no momento em que a disponibilidade de renda do consumidor se mostra esgotada.
No crédito ao consumidor, os bancos trabalham com "spreads" maiores, por conta do maior risco.
Nos negócios entre bancos, as operações de dois anos estavam sendo fechadas com juros prefixados ao redor de 25% ao ano.
Antes, já se começava a cotar operações de 48 meses. Agora, a mudança dos juros ressuscitou o dia-a-dia.

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