São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 1996
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Assalto pode fazer parte da paisagem nas praias do sul da Bahia

YURI BRANCOLI; LUIS CARLOS FERNANDES AFONSO

Yuri Brancoli e Luis Carlos Fernandes Afonso
Com dez dias de férias em julho e cansados do frio da capital paulista, resolvemos fugir para o sul da Bahia, procurando calor, coqueiros, praias limpas e tranquilidade.
Como praticantes ocasionais de trekking, decidimos partir em um passeio bastante divulgado, a "Caminhada do Descobrimento", conhecida por ser de pouca dificuldade e grande beleza.
São cerca de 80 km de praias, de Porto Seguro até Prado.
Antes, levantamos todos os dados disponíveis sobre a região.
Mochila nas costas e cabeça cheia de toques sobre o percurso, lá fomos nós em busca da aventura.
Como Porto Seguro e Arraial d'Água já estão mais para Maresias, no litoral de São Paulo, do que para Pero Vaz de Caminha, tamanha a quantidade de gente, fomos direto para Trancoso, localizada a 22 km de Porto Seguro.
Na manhã seguinte, começamos o trekking, fotografando o belo arraial da vila e indo ao rumo sul.
Após cerca de uma hora e meia de caminhada -tendo encontrado pouquíssimas pessoas-, fizemos a primeira parada.
Numa ponta de areia da praia de Itaquena, no meio do nada, sem ver ninguém, arriamos as mochilas e tomamos um banho de mar.
Logo atrás da praia, em um mangue, achamos uma pequena lagoa de água doce, onde fomos tirar o sal do corpo. Foi aí que o inacreditável aconteceu.

Amigos do alheio "Não se movam. Isso é um assalto!" Imaginamos que se tratava de uma brincadeira, mas era um verdadeiro "ninja baiano", de calça comprida verde, camisa preta de mangas longas (perfeita camuflagem para o mangue) e uma máscara de motoqueiro que só deixava ver os olhos. Na mão, coroando o modelo, um reluzente revólver calibre 38. Coisa de profissional.
O sujeito levou tudo: mochilas, dinheiro, documentos, equipamento fotográfico, roupas, comida e apetrechos de mergulho.
Daí, só nos restou retornar à vila e procurar a polícia.
Voltamos ao local do assalto acompanhados pelo delegado de Trancoso -mais de quatro horas depois, é verdade- e só achamos as pegadas do ladrão.
Diante do ocorrido, a reação dos moradores foi bastante variada.
Aqueles ligados diretamente à exploração do turismo (donos de pousadas, restaurantes etc.) tiveram uma reação de pânico e se apressaram em nos garantir que aquilo era uma total novidade.
Os moradores mais humildes nos procuraram para contar as diversas histórias recentes de assaltos, sempre com as mesmas características daquele que sofremos tendo como palco a "tranquila" Trancoso e praias mais distantes e desertas, ao sul, como Itaquena e praia dos Nudistas.
Assim, é preciso ter o cuidado de de não fazer essa caminhada em grupos pequenos. Outra dica é buscar a companhia de um guia local, já que os assaltantes são mascarados justamente porque temem ser reconhecidos.

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