São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 1996
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Com a alma vendida, Corinthians perde a vida

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

EDITOR DE DOMINGO

Tem razão a torcida corintiana de estar enfurecida com a diretoria e a produção de seu time nesse início de Brasileiro.
Se o Corinthians de 95, vencedor da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista não chegava a ser um esplendor, tinha, com certeza, um desenho muito promissor. E o que é fundamental para clubes populares e carismáticos: um grupo de jogadores que resumia sua alma.
Tinha Ronaldo, Célio Silva, Marques, Souza, Bernardo, mas também -e acima de tudos- a trindade Viola, Marcelinho e Zé Elias, que dava ao clube aquilo que é dele: fibra, alegria, empolgação.
Eram jogadores que se completavam -nenhum genial, os três juntos brilhantes, com o auxílio de jovens de futuro.
Em um ano, aquela equipe que fazia sorrir meus amigos coringões está desfeita. Foi-se Viola, foi-se o Zé e o Marcelinho não está. Foi-se a alma.
Vejo, perplexo, o Corinthians apostar em Alcindo, jogador que cansei de ver no banco de reservas do Flamengo, como solução de ataque -enquanto o menino Marques faz nome no eterno do Maracanã.
É muito difícil montar times que simbolizem os anseios e exigências de torcidas como as do Corinthians e Flamengo -que gostam da boa técnica, muita raça e alguma dose de malandragem e "bandidagem" em suas esquadras.
Mas é muito fácil, infelizmente, destruí-los, como demonstra agora a diretoria corintiana.
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É um pequeno escândalo o amontoado de dívidas dos clubes com o Estado. Juca Kfouri tem razão: só fechando e obrigando a reabrir em padrões empresariais. O resto é blablablá e empurra com a barriga.
*
Um ex-presidente de um dos maiores clubes do país me diz que a modernização de nosso futebol virá por intermédio de Ricardo Teixeira.
O paradoxo, segundo ele, explica-se: o dirigente da CBF estaria encantado com a dinheirama que a boa administração da seleção proporcionou à entidade.
Mais do que isso, estaria convicto de que o Brasil precisa de um passo decisivo em termos de organização.
O presidente do Flamengo, Kléber Leite, seria uma peça fundamental nessa mudança de mentalidade.
É ver, mas ver muito mesmo, para crer.
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Tudo bem que o Brasil não possa vencer todas as competições que disputa -embora tenha tudo para isso.
Mas não dá para cair nessa lenga-lenga de achar que Zagallo fez um "ótimo trabalho" e que, afinal, a Nigéria é o máximo.
Essa crítica muito compreensiva, sempre pronta a colocar paninhos quentes e sair em defesa de técnicos e dirigentes cheira a bajulação.
Se o trabalho de Zagallo tivesse sido tão bom assim, o Brasil teria, pelo menos, ido à final.
*
Por falar em Zagallo... "mutcho loca" essa convocação dele para os amistosos na Europa.
Como diria o apóstolo argentino, após o pronunciamento de Cristo na Santa Ceia, informando que alguém ali iria traí-lo: "Pegô pessado".

Hoje, excepecionalmente, não publicamos a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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