São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 1996
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Leia alguns "nadas" de Barros

* Na ponta do meu lápis, tem um nascimento. Mas se o filho é ruim, passo a borracha.
* Um dia me chamaram primitivo. Não era para brigar? Era para brigar. Eu tive um êxtase. Igual quando chamaram Fellini de palhaço. Fellini teve um êxtase.
* A voz de meu avô arfa. Estava com um livro debaixo dos olhos. Vô! o livro está de cabeça para baixo. Estou deslendo.
* Hoje completei 10 anos. Fabriquei um brinquedo com palavras. Minha mãe gostou. É assim: De noite o silêncio estica os lírios.
* Prefiro as linhas tortas, como Deus. Em menino eu sonhava de ter uma perna mais curta (Só pra poder andar torto). Eu via o velho farmacêutico de tarde, a subir a ladeira do beco, torto e deserto... toc ploc toc ploc. Ele era um destaque.
Se eu tivesse uma perna mais curta, todo mundo haveria de olhar para mim: lá vai o menino torto subindo a ladeira do beco toc ploc toc ploc.
Eu seria um destaque. A própria sagração do Eu.
* As coisas que não têm dimensões são muito importantes.
Assim o pássaro tu-you-you é mais importante por seus pronomes do que por seu tamanho de crescer.
* Não preciso do fim para chegar.
* Todo mundo tem um quintal. É o quintal da infância. Mais cedo ou mais tarde, ele aparece.
* Os patos prolongam meu olhar...Quando passam levando a tarde para longe eu acompanho...
* Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

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