São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 1996
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Sabino relança crônicas de viagens

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em toda feira de livros, há 50 desocupados que se fazem passar por escritores e 50 escritores que se fazem passar por desocupados. Os primeiros, pelos brindes. Os outros, para se livrar do assédio.
Fernando Sabino é um dos que fugiam da imprensa. Ele relança "De Cabeça Para Baixo", livro extraído de um diário de viagens.
O livro começa com a visita à Europa do pós-guerra, onde encontrou-se com o amigo Otto Lara, além de Érico Verísimo, Di Cavalcanti, Vinicius de Moraes, Samuel Wainer e Murilo Mendes.
Relata os encontros com Fidel Castro e com um Che Guevara asmático, aos 28 anos, sem perder a ironia jamais. "Guevara dirige o Banco Nacional de Cuba. Perguntamos como isso se deu. Ele contou que Fidel perguntou: 'Tem algum economista?' Guevara se apresentou, porque entendeu comunista."
Sobre a visita a Caniçada, Portugal, em 1984, narra: "Não foi fácil achar este lugar, que nem consta no mapa. Na estrada, abordamos um camponês. 'Sigam em frente, ele disse.' Já íamos seguindo em frente, quando ele acrescentou: 'Em havendo curvas, façam-nas'."
Sabino, 36 livros publicados, teve seu percalço ao publicar, em 1991, "Zélia, uma Paixão", biografia autorizada da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello. Leia trechos da entrevista concedida por fax.
*
Folha - Por que "De Cabeça Para Baixo"?
Fernando Sabino - É sobre o que me aconteceu em uma viagem ao Oriente, que está de cabeça para baixo em relação ao Brasil. Como o Brasil está de pernas pro ar em relação a tudo, continuamos todos de cabeça para baixo aqui mesmo.
Folha - O livro foi revisto por Otto Lara?
Sabino - Revisão, não. Uma leitura dos originais com anotações. Por exemplo, quando reclamo a falta de um dicionário. "Vê-se realmente que você, temendo excesso de peso, viajou com pouca bagagem vocabular", ele anotou. É um leitor implicante e ranheta, mas sendo personagem de várias passagens do livro, podia opinar.
Folha -Qual o gênero do livro?
Sabino - Eu diria que é literário. Os limites entre os gêneros são cada vez mais flexíveis. É o relato de minhas andanças e trapalhadas pelo mundo.
Folha - "Zélia, uma Paixão" foi uma aventura extraliterária?
Sabino - Ao contrário, foi uma experiência literária, um desafio. Sempre foi um problema para mim conciliar fatos reais com os de ficção. Flaubert, quando processado, disse que Madame Bovary era ele mesmo, desvinculando-se da realidade. Zélia não sou eu, é ela. Mas pude escrever em termos de ficção, com as limitações impostas pela realidade.
Folha - Quanto Zélia participou?
Sabino - Ela colaborou com tudo para que eu enfrentasse esse desafio literário. Enfrentando ela própria com bravura as consequências da temeridade de ser fiel à sua verdade.

Livro: De Cabeça Para Baixo
Autor: Fernando Sabino
Preço: R$ 15,90
Páginas: 336

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