São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 1996 |
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EL CID, KAGEMUSHA, IELTSIN Mesmo passadas as angústias eleitorais que projetavam incertezas sobre a sociedade russa, a sua cúpula política é hoje palco de uma disputa pelo poder com lances muito parecidos aos da época do Politburo. Ieltsin está enfraquecido e com problemas de saúde que já eram notórios na campanha eleitoral. Há uma guerra interna de posições. E como em toda sociedade fechada, é difícil administrar conflitos de poder interno. As ameaças externas servem tanto como bode expiatório quanto como campo para demonstrações de força militar -decisiva na definição do futuro da Rússia. O FMI acaba de renovar seu apoio ao governo russo, depois que Ieltsin nomeou um liberal para a área econômica. Mas as pressões contra a reforma e por posições mais nacionalistas, de reafirmação da presença geopolítica russa, são significativas. E um de seus porta-vozes é o próprio general Lebed que, aparentemente, avança sob a sombra de Ieltsin. A história política universal não recomenda que se confie em grandes líderes. Uma democracia que depende demais de uma pessoa obviamente não é estável. Talvez a história seja mesmo fruto de processos impessoais e aos indivíduos reste um papel que, decisivo, não raro se esvai numa caricatura, às vezes perversa. Filosofias da história à parte, o fato é que a memória das civilizações já consagrou personagens exóticos, para dizer o menos. Destacam-se também lendas como as de conhecidos líderes que, mortos, foram substituídos por dublês. El Cid cavalgava defunto, levando seus exércitos adiante. No filme "Kagemusha", do cineasta japonês Kurosawa, o rei era na verdade um sósia. Até quando Ieltsin será mesmo Ieltsin? Texto Anterior: REAÇÃO EMOCIONAL Próximo Texto: Megalomania emplumada Índice |
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