São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresários refazem antigas rotas do ouro

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Roteiros, mapas e diários de viagens dos séculos 18 e 19, que estavam esquecidos em cartórios, bibliotecas e museus, voltaram a ser referência para pesquisa de jazidas de ouro, em particular nos Estados de Goiás, Tocantins e Maranhão.
Até antigos escritos, com lendas sobre fantásticas reservas auríferas jamais descobertas, estão sendo recuperados como fonte preciosa de informação.
O geólogo Sevan Naves, 49, ex-diretor do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), em Goiás, e um dos mais requisitados consultores de mineração do país, requereu três áreas para pesquisa de ouro em Goiás e uma na divisa do Pará com o Maranhão, a partir de documentos históricos.
O dicionário geográfico "Minas do Brasil", de Francisco Inácio Pereira, editado em 1887 pela Imprensa Nacional, lista 54 prováveis reservas de ouro em Goiás.
A primeira, por ordem alfabética, é identificada simplesmente pelo nome "Abbade", um conjunto de minas de ouro na comarca do Rio Maranhão. É um local próximo da cidade histórica de Pirenópolis, cerca de 100 km de Brasília.
A partir dessa pista, o economista e empresário da construção civil Tasso Marquez de Morais, 39, iniciou, há dez anos, sua longa busca de informações para confirmar a existência das jazidas.
Acabou reunindo documentos sobre a aventura do francês Alfred D'Arena, que dirigiu uma mineradora na região no século 19. A mina foi destruída durante ataque organizado por comerciantes de Pirenópolis, em 1887, e o mato tomou conta das antigas instalações.
O empresário descobriu que a mina explorada por Arena correspondeu à maior empresa de mineração do século 19: a Companhia de Mineração Goyana, criada em agosto de 1883, com 300 sócios.
Certo de que os documentos indicam a existência de muito ouro no local, uma vez que as minas foram destruídas em plena fase de produção, Marquez conseguiu cinco alvarás para pesquisa geológica em toda a serra dos Pirineus, onde ficavam as jazidas.
O empresário diz que já investiu US$ 350 mil em pesquisas e que as sondagens indicaram uma reserva de 30 toneladas de ouro, ou seja, uma fortuna de US$ 372 milhões no subsolo, que ele quer explorar em sociedade com capitais estrangeiros.
Sevan Naves transformou seu escritório de consultoria (a Engeos -Empreendimentos em Geologia e Serviços Ltda.), em Brasília, em ponto de encontro dos estudiosos das antigas rotas de ouro, entre eles, Paulo Bertran, professor de História Econômica da Universidade Católica de Goiás.
No ano passado, Bertran associou-se a quatro geólogos de Brasília e registrou a Mineração Impertinente, que já requereu alvará para pesquisa de ouro e diamante em Minas, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.
O professor tomou a decisão de virar empresário depois de quatro viagens a Portugal para pesquisa de documentos do século 18, sobre as jazidas minerais brasileiras, guardados no Arquivo Ultramarino de Lisboa.
As áreas requeridas para pesquisa nos quatro Estados somam 1 milhão de hectares e, segundo Bertran, a empresa também vai buscar sócios estrangeiros para financiar o empreendimento.
Bertran e Tasso Marquez apostam tanto na validade das antigas rotas de ouro que refizeram o roteiro escrito pelo português Urbano do Couto, que foi endereçado à rainha-regente Mariana, mulher de dom João 5º, em julho de 1750.
O roteiro fala em uma jazida de ouro de "grandeza tal que não terão visto em Goiás". Segundo o professor, o suposto tesouro se encontra a apenas 70 km a noroeste de Brasília.
Bertran e Marquez refizeram a rota em separado e chegaram a locais diferentes, embora próximos um do outro. Como ambos acreditam ter achado o local certo, cada um requereu direito de pesquisa sobre a área que identificou.

Texto Anterior: Jungmann rompe negociação com MST
Próximo Texto: Rumo do século 18 desafia neobandeirantes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.